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Novo álbum de Carminho reforça o seu domínio sobre a linguagem do fado contemporâneo

15 de Outubro de 2025

“Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir” chega às plataformas digitais com participação especial de Laurie Anderson

Carminho compôs 8 das 11 faixas do álbum, gravado em Lisboa

Ouça o novo álbum aqui

Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir é o álbum mais arrojado de Carminho desde que se lançou na carreira artística. A cantora portuguesa reforça aqui o seu lado autoral, assinando oito das 11 faixas. Produzido pela própria artista, o disco chegou às plataformas de streaming em lançamento da Sony Music (também saiu em formato de CD e vinil). Ele faz parte de uma nova etapa criativa da artista, na qual tradição, poesia e diferentes texturas do fado se entrelaçam.

A grande voz do fado, reconhecida pela interpretação intensa e a capacidade de inovar o gênero, Carminho percorre os caminhos da alma humana, que congrega vários sentimentos ambíguos. Essa ambiguidade fica clara logo no título: "Morre-se muito de amor no fado, mas poder resistir é algo que me interessa e me interessa cantar", diz ela. “Neste trabalho, fui muito inspirada pela mulher, pela ideia de que a mulher ocupa um lugar central como intérprete, mas que existem muitas narrativas paralelas, mesmo ambíguas, dentro da própria mulher”, acrescenta.

Carminho manifesta uma inquietação que a impede de repetir fórmulas. O álbum tem suas raízes no fado, mas incorpora elementos da música experimental e revela-se abertamente feminista. A presença das mulheres, por sinal, é notável em todo o trabalho. A começar pela participação especial da ícone americana Laurie Anderson na faixa “Saber”, em que faz um contraponto à voz de Carminho, sussurrando a letra da canção em inglês.

A fadista musicou versos da poeta experimental portuguesa Ana Hatherly (1929-2015), na fase mais lírica e reflexiva da autora. A canção fala do conhecimento que une duas pessoas, deixando de ser apenas racional para criar laços de afeto. “Saber / é saber saber-te / Sabermo-nos unir / unirmo-nos é conhecermo-nos / sabermos ser / Por fim sermos / é sabermos”.

Ana Hatherly também comparece com “Balada do país que dói”, o primeiro single do álbum, lançado em setembro. “O barco vai, o barco vem / português vai, português vem / O país cai, o país dói / O tempo vai / o tempo dói”, diz a letra da canção. O jogo de palavras é reforçado pelo arranjo sensível, que combina a voz de Carminho com guitarra portuguesa e elétrica, mellotron e viola de fados. Na faixa, a cantora também assume o comando do Vocoder – instrumento que modula e sintetiza a voz humana.

Para este disco, Caminho buscou inspiração nos conjuntos de guitarras portuguesas e em grandes vozes como Maria Teresa de Noronha, Beatriz da Conceição e Teresa Siqueira (sua mãe). As referências incluem outras duas mulheres que inovaram a cena musical. Uma delas é a cantora americana Annette Peacock, uma das pioneiras da música eletrônica desde os anos 1960. A obra de Annette atravessa o jazz e o rock de vanguarda, sempre marcada por forte liberdade estética e emocional. A segunda é a produtora e compositora Wendy Carlos. Autora das trilhas de “Laranja Mecânica” e “O Iluminado”, ela foi uma das primeiras artistas a popularizar o sintetizador na música.

“Essas mulheres tiveram um papel admirável ao experimentarem novas possibilidades de uso das vozes femininas. Sem elas eu não teria feito este álbum. As duas mostraram que as mulheres e as suas vozes podem romper padrões. Isso fica claro quando uso o Mellotron e o Vocoder. É como se cada apresentação da minha voz revelasse diferentes estados de espírito, diferentes mulheres e até diferentes épocas”, define Carminho.

Uma faixa que merece ser ouvida com atenção é “Canção à Ausente”, com música de Carminho sobre versos do poeta lírico português Pedro Homem de Mello. O poema foi publicado originalmente em 1939, encenando a tensão entre a esperança amorosa e a frustração da ausência.

“Para te ouvir, ensaiei meus ouvidos! / Pus-me a escutar as vozes do silêncio / Para te ouvir ensaiei meus ouvidos! / E a vida foi passando, foi passando... / E, à força de esperar a tua vinda / de cada braço fiz mudo cipreste / A vida foi passando, foi passando... / E nunca mais vieste!”, diz a letra do fado, que foi lançada como single no início do mês.

A cantora incluiu ainda "Sofrendo da Alma", fado que compôs sobre os versos de Amália Rodrigues. "Mais do que o corpo, é a alma / É alma que me dói / Que foi sofrendo da alma / Que a minha vida se foi".

Relação próximo com o Brasil. Em mais de 20 anos de carreira, Carminho tem ligação de longa data com o Brasil. Já gravou com Chico Buarque, Caetano Veloso, Marisa Monte e Milton Nascimento, além de ter lançado um álbum dedicado a Tom Jobim. Os fãs brasileiros, aliás, não perdem por esperar. Em novembro, ela virá ao país para o Festival Fado 2025, que inclui apresentações no Rio de Janeiro (23), em São Paulo (dia 24) e Brasília (26).

“O público brasileiro é extraordinário. Varia de cidade para cidade – e isso é fabuloso. Tenho o privilégio de já ter tocado em muitos lugares diferentes do Brasil. E sempre quero voltar porque sou muito bem recebida. Os brasileiros perceberam e acarinharam o amor que sinto pela cultura do país. Consigo ser eu mesma, cantando repertório de um país que está do outro lado do oceano”, conclui.

FAIXAS

1. Balada do país que dói

(Carminho / Ana Hatherly)

2. Trazes-me tanta saudade (fado Ritz)

(Carminho)

3. Saber / Feat. Laurie Anderson

(Carminho / Ana Hatherly)

4. Pela minha voz

(Joana Espadinha)

5. Diz agora que acabou (fado Acabou)

(Carminho)

6. Lá vai Lisboa

(Raul Ferrão / Norberto de Araújo)

7. Sofrendo da alma

(Carminho / Amália Rodrigues)

8. Canção à Ausente

(Carminho / Pedro Homem de Mello)

9. À sombra do teu cabelo

(Carminho)

10. Eu vou morrer de amor ou resistir (fado Súplica)

(Armando Machado / Carlos Barrela)

11. Dia cinzento

(Carminho / Flávio Cardoso/ Tiago Maia)

FICHA TÉCNICA

"Eu Vou Morrer de Amor ou Resistir"

Voz e Vocoder: Carminho

Guitarra portuguesa: André Dias

Viola de Fado: Flávio César Cardoso

Baixo acústico: Tiago Maia

Guitarra elétrica: Pedro Geraldes

Cristal Baschet, Ondas Martenot e Mellotron: João Pimenta Gomes

Piano: Mário Laginha (em "Dia Cinzento")

Produzido por Carminho

Gravação: Joaquim Monte / Miguel Peixoto

Mixagem: Joaquim Monte

Masterização: Bob Weston

Produção executiva: Carminho / Miguel Isaac

(P) 2025 Sony Music Entertainment Portugal, Sociedade Unipessoal Lda., sob licença exclusiva de Maria Music

Gravado nos Estúdios Namouche, em Lisboa, Portugal

SME Portugal, Sociedade Unipessoal, Lda.

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