Palácio Itamaraty | Foto: Diego Baravelli |
Brasil não pode ser submetido a uma humilhação como essa. Tem que dar uma resposta sob pena de ser considerado internacionalmente um pária. Não importa se o diplomata no Brasil possa ser de um país que até agora se posta como amigo e tem a mesma vertente ideológica. Os cenários internacionais entre o Brasil e a maior potência militar do mundo não são amigáveis. Fatos históricos de reconhecimento da independência nacional, tratados comerciais, empréstimos obtidos com o aval internacional são fatos do passado e circulam nos interesses que movem as duas nações. Negociar com uma potência econômica e militar é o mesmo que subir no ringue com as duas mãos amarradas nas costas. É uma crônica de uma derrota anunciada, e o que os poderosos querem ouvir é apenas um “sim, senhor”. Pode parecer cruel que o relacionamento entre nações se baseie em um cenário tão cruel. Mas não há alternativa.
Os interesses políticos e econômicos orientam a diplomacia dos países. Já se disse que países não têm amigos, têm interesses. Muitos deles são negociados fora do alcance dos cidadãos comuns e dos meios de comunicação. A diplomacia secreta é praticada por todas as nações do mundo. Os acordos e tratados são guardados a sete chaves e só depois de muito tempo emergem dos cofres e arquivos oficiais. Há leis que vedam o acesso a essa comunicação e algumas chegam a um século de segredo. Quando vêm à tona já não são mais objetos de política nacional, mas pertencem à História, que se preocupa em estudar o passado. Os congressos internacionais se batem pela transparência dos acordos entre as nações sob a bandeira dos direitos humanos e do direito dos cidadãos saberem o que grupos de políticos e burocratas decidem em nome da nação. Os exemplos são inúmeros e a frustração é que a diplomacia tanto pode trabalhar pela paz como costurar alianças militares capazes de iniciar guerras e conflitos de toda ordem.
Os diplomatas precisam ficar sob fiscalização rígida dos dirigentes nacionais e dos cidadãos em geral. O Brasil sofre os efeitos de um burocrata comprometido com os interesses econômicos do seu país de origem e não do Brasil. A bandeira do bom moço é impedir que seres humanos sejam escravizados, transformados em mercadorias e vendidos para trabalhar nas fazendas de café que crescem aceleradamente. O outro lado da bandeira é que a Inglaterra vive a segunda fase da Revolução Industrial e, conforme o liberalismo britânico, a mão de obra assalariada é a única adequada para o desenvolvimento do capitalismo do século 19. O Brasil tem a sua produção agrícola apoiada no braço escravo africano. Os ingleses combatem o tráfico no Atlântico Sul desde o final do primeiro reinado. Com Dom Pedro II as relações azedam. Navios carregados de escravos são aprisionados pela marinha britânica antes de chegar no Brasil. O embaixador William Christie protesta contra o tráfico e está atento às oportunidades de criar um embate com o império brasileiro. O pretexto surge com o afundamento de um navio mercante no sul, que é pilhado pelos moradores gaúchos. Oficiais da marinha de Sua Majestade são presos por bebedeira no Rio de Janeiro. Christie dá ordem para os navios de guerra ameaçarem a capital do império. Quer a libertação dos bêbados e a indenização pelo navio afundado. O Brasil não tem como enfrentar a maior potência marítima do mundo. O país, se dobra, paga e expulsa o embaixador Christie em 1863. Só depois de dois anos as relações diplomáticas são retomadas.
* Prof. Heródoto Barbeiro âncora do Jornal Nova Brasil, colunista do R7, apresentou o Roda Viva na TV Cultura, Jornal da CBN e Podcast NEH. Tem livros nas áreas de Jornalismo, História. Midia Training e Budismo. Grande prêmio Ayrton Senna, Líbero Badaró, Unesco, APCA, Comunique-se. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Palestras e mídia training. Canal no Youtube “Por Dentro da Máquina”, www.herodoto.com.br
Heródoto Barbeiro – Professor e Jornalista
Palestras e Midia Training