Palácio dos Bandeirantes | Foto: Reprodução/ Internet |
Depois de prefeito da maior cidade do Brasil e governador do estado economicamente mais poderoso, só resta agora chegar à presidência da República. São Paulo é o trampolim mais importante para chegar à Brasília. É verdade que ele não é paulista de nascimento, o que pode atrapalhar o gosto do bairrismo local. Mas estudou e iniciou uma carreira de sucesso na cidade de São Paulo, e ninguém se lembra disso. O primeiro salto é a prefeitura da cidade economicamente mais importante do Brasil. Sua aparição em obras públicas, incertas nas repartições da prefeitura e constante espaço na mídia garantem prestígio e votos para continuar. O segundo salto em direção à Brasília é a ascensão ao governo do estado em um duro embate eleitoral que vence por pequena margem de votos. Uma vez instalado no palácio, rompe politicamente com o governo federal, contra quem abre suas baterias políticas e deixa claro que vai concorrer à presidência da República. Crê que tem musculatura para isso. Popularidade não lhe falta e chama a atenção pelo guarda-roupa exótico que exibe nas fotos.
O pretendente sabe que o marketing é tudo. E o produto é ele mesmo, o candidato à presidência. O partido político não tem a menor importância, uma vez que a eleição para presidência é pessoal, os eleitores julgam o candidato e não o partido ou a ideologia que pratica. Os eleitores estão cansados dos politicões tradicionais, atrelados a partidos políticos sem base programática ou ideológica. Querem o poder pelo poder. Com isso, o candidato, oriundo do governo de São Paulo, constrói a imagem de alguém novo, de fora dos quadros partidários, acusados sistematicamente de corrupção. Ele é um outsider, como gostam de rotulá-lo os comentaristas políticos. Não tem rabo preso com ninguém, por isso escolhe um partido político enfraquecido, no qual pode controlar os convencionais, responsáveis pela indicação do candidato à presidência da República. Aparentemente, não tem nenhuma chance, uma vez que sofre forte oposição da esquerda, dos sindicatos e de parte da direita acostumada às delícias das encomendas estatais.
Mesmo antes de terminar o mandato, o governador paulista já está em campanha pelo Brasil. Tem um sucessor de confiança para apoiar e dinheiro para bancar uma campanha custosa. O caminho da vitória passa pela propaganda eleitoral, com forte apelo popular, com jingles e impressos de toda espécie. O grupo que assessora o candidato sabe que a população é mais sensível aos veículos eletrônicos e, para isso, divulga à exaustão que é uma campanha do tostão contra o milhão. Jânio Quadros bate de frente com o candidato general Teixeira Lott. É uma oportunidade de os paulistas voltarem ao poder, que perderam desde 1930 quando um golpe de estado militar derrubou o presidente Washington Luís e impediu o eleito Júlio Prestes de tomar posse. Foram obrigados a aceitar o caudilho gaúcho Getúlio Vargas. Uma bem-sucedida campanha de marketing, quando se consagrou o jingle "varre, varre vassourinha", foi coroada com uma diferença brutal de votos em relação a Lott. O mais bem votado candidato à presidência da República, Jânio da Silva Quadros, é o primeiro a tomar posse na nova capital, Brasília. Um mandato que durou pouco, muito pouco...
*Heródoto Barbeiro é jornalista do Record News, R7 e Nova Brasil (89.7), além de autor de vários livros de sucesso, tanto destinados ao ensino de História, como para as áreas de jornalismo, mídia training e budismo. Apresentou o Roda Viva da TV Cultura e o Jornal da CBN. Mestre em História pela USP e inscrito na OAB. Acompanhe-o por seu canal no YouTube “Por dentro da Máquina”, clicando no link https://www.youtube.com/