Viver - Saúde

A importância da vacinação no primeiro ano de vida

27 de Junho de 2023
Dra. Silvia Nunes Szente Fonseca, pediatra e infectologista

As infecções constituem uma das maiores causas de mortalidade, principalmente em crianças, no mundo todo, especialmente em países em desenvolvimento. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), no ano de 2021, cinco milhões de crianças com menos de cinco anos de idade morreram, sendo 47% dessas mortes ocorrendo no primeiro mês de vida, devido à prematuridade, asfixia no parto e infecções. Mais de dois milhões e meio de crianças com mais de um mês de vida morreram, em sua maioria, de infecções preveníveis.

As vacinas desempenham um papel importante na redução dessas mortes, uma vez que as infecções são mais graves em crianças, especialmente nas desnutridas. No mundo, cerca de 45 milhões de crianças estão severamente desnutridas, e no Brasil, mais de 4.000 crianças foram internadas por desnutrição em 2022. No entanto, as infecções não são graves apenas para crianças desnutridas. Crianças bem nutridas também estão sujeitas à poliomielite, sarampo, meningite bacteriana, entre outras infecções, que são preveníveis por meio de vacinas. Segundo a OMS, aproximadamente 1,5 milhão de vidas poderiam ser poupadas anualmente se a cobertura vacinal fosse ampliada.

Toda vez que ocorre uma infecção, o organismo da pessoa é capaz de produzir substâncias que combatem os vírus ou bactérias responsáveis pela infecção, e muitas vezes essa proteção dura a vida toda. Quando as defesas próprias do organismo não funcionam corretamente, a pessoa pode morrer em decorrência da infecção ou sofrer sequelas significativas. As vacinas são uma maneira inteligente de obter proteção sem precisar ficar doente, pois estimulam o organismo a produzir suas próprias defesas antes que o vírus ou bactéria infecte a pessoa.

Elas são produzidas de diversas formas, utilizando bactérias ou vírus atenuados (mais fracos) ou até mesmo inativos, e mais recentemente, empregando técnicas de biologia molecular que utilizam partículas menores desses microrganismos. Antes que as vacinas sejam disponibilizadas ao público, são realizados extensos estudos sobre sua segurança e eficácia, além de serem avaliados os possíveis efeitos colaterais. As vacinas têm uma história de sucesso que atravessa os séculos XX e XXI. No passado, a varíola causava cerca de dois milhões de mortes por ano, mas graças a um amplo programa de vacinação, foi erradicada em todo o mundo na década de 1970. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), os casos de poliomielite, também conhecida como paralisia infantil, diminuíram mais de 99% nos últimos anos: de 350 mil casos estimados em 1988 para 29 casos notificados em 2018. O Brasil recebeu o certificado de eliminação da pólio em 1994.

No Brasil, há 50 anos existe o maior programa de imunização gratuita do mundo. No entanto, as coberturas vacinais têm diminuído nos últimos 8 anos, por uma série de razões: dificuldade de acesso aos postos de saúde, crença equivocada de que as doenças preveníveis por vacinas não existem mais, crença equivocada de que vacinas "experimentais" são liberadas para uso, crença equivocada de que vacinas causam autismo, outras doenças e mortes. O Brasil, que havia recebido o certificado de eliminação do sarampo em 2016, presenciou mais de 9.000 casos confirmados de sarampo em 2018, com várias mortes evitáveis.

O sarampo continua ceifando vidas em vários países ao redor do mundo, e somente em 2023 mais de 900 casos ocorreram em países europeus, além de vários surtos em países africanos. E o sarampo não é uma doença banal: 10% das pessoas infectadas desenvolvem infecções de ouvido e diarreia, 20% das crianças não vacinadas e infectadas são hospitalizadas, 5% das crianças infectadas têm pneumonia, 1 em cada mil desenvolve encefalite e 1 a 3 em cada mil crianças morrem. O sarampo não tem tratamento específico conhecido, mas é prevenível por meio das vacinas. Essas vacinas estão no mercado há décadas, são muito seguras e eficazes, e devem ser aplicadas no primeiro e segundo anos de vida. De acordo com o Ministério da Saúde, todas as pessoas com menos de 30 anos devem receber duas doses da vacina contra o sarampo, e as pessoas de 30 a 50 anos devem receber pelo menos uma dose.

Não há nenhuma razão para essa onda de hesitação vacinal que estamos presenciando em nosso país. As vacinas foram a grande causa do aumento da longevidade em todo o mundo e são essenciais para que nossas crianças cresçam saudáveis. Vacinar é um ato de cidadania e de responsabilidade coletiva e individual. É um verdadeiro presente da ciência para a humanidade.

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