Peça estreia dia 19 de maio no Teatro Sesc Santana, onde segue até 11 de junho. O espetáculo que marca a primeira direção da cineasta Marcela Lordy no teatro, tem dramaturgia de Franz Keppler e quer levar perguntas ao público
Crédito: Ale Catan |
Com texto de Franz Keppler, direção de Marcela Lordy e idealização da atriz Carolina Mânica, o espetáculo Aquário com Peixes estreia em 19 de maio no Teatro Sesc Santana. A peça é uma história de amor, mas também de embate entre duas mulheres completamente opostas - até nos signos. Protagonizada por Carolina Mânica e Natallia Rodrigues, a montagem reflete ainda sobre perdão, passagem do tempo e liberdade. O espetáculo tem sessões sextas e sábados, às 20h, e domingos, às 18h, e fica em cartaz até 11 de junho. A partir de 1º de junho sessões também às quintas, às 20h.
A história acompanha a promotora pública Anita (Carolina Mânica) e a astróloga Lídia (Natallia Rodrigues) autêntica pisciana, exageradamente sensível e emotiva. É essa intensidade que encanta a aquariana Anita e a desperta para viver sua primeira relação com uma mulher, aos 40 anos e após se divorciar do marido. O público acompanha a descoberta que uma faz do mundo da outra e o florescer dessa paixão que precisa abraçar e contornar as diferenças.
Esse encontro é um convite à reflexão sobre viver e amar, diz Keppler. “A personagem percebe que a vida não é essa coisa definida que a gente traz com a gente por educação. A vida não tem critério, ela pode estar de um jeito hoje e outro completamente diferente amanhã. Então por que não o amor? A peça fala que o amor pode mudar, ser diferente, encontrar outras formas e ser fluido. Ele pode tudo”.
No meio dessa história, Lídia descobre uma enfermidade com baixas chances de recuperação. Então, Anita se vê diante do dilema de enfrentar essa doença ao lado da companheira ou seguir seu caminho sozinha. A personagem questiona a si mesma - e a plateia - até que ponto somos responsáveis pela pessoa com a qual compartilhamos momentos fantásticos da vida.
Anita e Lídia apresentam muito mais que uma história de paixão e desafios. Elas também expõem o despertar de um desejo homoafetivo, a passagem do tempo para as mulheres que ainda é uma ferramenta de opressão social e impulsiona o desejo de liberdade na maturidade, o medo da morte e o autoperdão.
Para Mânica, qualquer pessoa pode se identificar com os dilemas das personagens. “É uma história muito potente que nos leva para muitos caminhos. O espetáculo é super poético, mas tem momentos de humor em que você dá risada com as duas, tem momentos de extrema tristeza. Ele vai transitando por todas essas sensações”, conta a atriz.
Segundo Marcela, diretora do espetáculo, este é mais um mérito do autor: o fato de conseguirmos entrar na pele das personagens e compreendermos suas escolhas, sem julgá-las. O que é vivido ali pode ser experimentado por qualquer um de nós, independente do gênero, identidade sexual, etnia ou classe social."
A urgência de viver a própria história e não de servir às histórias dos outros é um sentimento que une as pessoas. "Essa urgência existe em todo mundo. Em alguns, mais latente. Em outros, mais adormecida. E estava adormecida na Anita. Ela estava tão preocupada em cuidar do trabalho, do filho e do marido que a urgência dela estava focada nisso. Mas quando ela faz 40 anos, se depara com um monte de questionamentos sobre a vida, o que fez com o tempo que passou e o que fazer com o que ainda resta. E claro que esse questionamento vem um pouco de nós quando escrevemos, a gente fica mais pensativo”, conta Kepler.
Conforme a narrativa avança fora de cronologia somos levados por dois fluxos de pensamentos simultâneos guiados por pistas emocionais distintas. São diálogos internos num jogo telepático entre medo, desejo, projeção e memória.
O caminho da direção foi pautado pela sutileza ao invés do drama para mostrar os embates dramáticos o suficiente, segundo a diretora. O tempo e o espaço mais indefinidos abriram possibilidades para a exploração cênica. “Esteticamente, achei muito desafiador porque o texto quase não tem rubrica de ação, é um jogo de pensamento muito difícil de adaptar. Você tem mil formas de interpretar: fazer tudo no presente, tudo na memória, misturar os tempos. É uma loucura, e eu falei: putz, que difícil, então eu quero”, diverte-se Marcela que recém adaptou para o cinema um romance de Clarice Lispector que é puro pensamento.
O cenário é composto por uma divisória translúcida, como um vidro, entre as personagens para materializar esse rompimento. “Esse elemento divisor de ambientes é também um aquário. A cenografia estilizada é mais conceitual e o mesmo objeto pode ter diversos usos. Optamos por uma estética mais limpa para garantir que se possa prestar atenção no jogo de palavras”, conta a diretora.
A iluminação vai ajudar a contar essa história visualmente marcando o tempo das ações. A trilha sonora original criada por Edson Secco, compositor de dezenas de filmes e peças parceiro de longa data da cineasta, traz na construção sonora elementos cotidianos dos espaços físicos por onde transitam no tempo ações reais e imaginárias.
A história de Anita e Lídia não se encerra no teatro: ela já está sendo adaptada para o cinema, com idealização de produção de Mânica. A temática de mulheres acima de 40 anos e suas descobertas também vai dar origem a um podcast.
Ficha técnica:
Autor: Franz Keppler. Direção: Marcela Lordy. Idealização: Carolina Mânica. Diretora assistente: Ziza Brisola. Atrizes: Carolina Mânica e Natallia Rodrigues. Fonoaudióloga: Ana Maria Parizzi. Cenário e Direção de Arte: Fernanda Carlucci e Fernando Passetti. Assistência de Cenografia: Guilherme Françoso. Figurino: Fábio Namatame. Modelista Juliano Lopes. Produção de figurino: Carol Zilig. Costureiro: Fernando Reinert. Visagismo: Louise Helene Desenho de luz: Cesar Pivetti. Programador de luz: Luiz Fernando. Equipe de iluminação: Ricardo Oliveira Luiz Fernando. Desenho de som: Edson Secco. Operação de som: Aghata
Fotografia: Alê Catan. Assistente de fotografia Rafael Sá e Zé Moreau. Identidade Visual: Julio Dui. Criação de conteúdo e mídias: gaTú Filmes. Produção: Nosso cultural. Direção de Produção: Ricardo Grasson. Produção Executiva: Heitor Garcia. Assessoria de Imprensa: Adriana Balsanelli e Renato Fernandes.
Serviço:
Espetáculo Aquário com Peixes
Estreia dia 19 de maio de 2023, sexta-feira, às 20h, no Teatro Sesc Santana.
Temporada: De 19 de maio a 11 de junho. Sextas e sábados às 20h e domingos às 18
A partir de 1º de junho. Quinta a sábados às 20h e domingos às 18h.
Duração: 70 minutos.
Classificação etária: 12 anos.
Teatro Sesc Santana
Av. Luiz Dumont Villares, 579 - Santana, São Paulo - SP, 02085-100
Capacidade: 330 lugares
Ingressos: R$40 (inteira), R$20 (meia-entrada) e R$12 (credencial plena).
* Grátis nas sessões da Virada Cultural.
https://www.sescsp.org.br/
Sobre Marcela Lordy
Marcela lordy é diretora, roteirista e produtora. Amante da literatura, já teve um sanduíche em sua homenagem na Mercearia São Pedro. Graduada em cinema na FAAP, estudou direção de atores na EICTV, em cuba, e trabalhou com importantes autores do cinema brasileiro. Sua produção transita entre o cinema, a televisão, o teatro e as artes visuais como revelam seus filmes Sonhos de Lulu (2009), A Musa Impassível (2010), Aluga-se (2012), Ouvir o Rio: uma escultura sonora de Cildo Meireles’(2012) e O Amor e a Peste (2022), premiados em diversos festivais mundo afora.
Seu curta Ser O Que Se É'(2018) virou um fenômeno digital com 5 milhões de views em 1 mês. Para a televisão dirigiu episódios da série infanto-juvenil Julie e os Fantasmas, vencedora do APCA 2011 e indicada ao International Emmy Awards 2012, ‘Passionais’ (2014) veiculada na Globosat e ‘Turma da Mônica’ (2022) da Globo filmes. Em 2012, fundou a Cinematográfica Marcela, uma produtora independente, de caráter cultural, com a finalidade de coproduzir os filmes de sua autoria. Professora, júri e parte da comissão de seleção de festivais e editais, em 2022 lançou O Livro dos Prazeres, seu 1º longa-metragem de ficção. Segundo a revista americana Variety, o filme faz parte da safra de primeiros filmes de uma nova geração de jovens cineastas brasileiras que é um dos fenômenos mais interessantes vistos atualmente no cinema da América Latina.
Sobre Franz Keppler
Jornalista, dramaturgo e roteirista, estreou no teatro em 2007 com Nunca Ninguém Me Disse Eu Te Amo, peça indicada ao Prêmio APCA de melhor autor. Seguiram-se Depois de Tudo (2008), e Frames (2009), também indicada ao APCA de melhor autor. Em 2012, estreou: Córtex, direção de Nelson Baskerville, Camille e Rodin, direção de Elias Andreato, e Divórcio, direção de Otávio Martins. As duas últimas ganharam montagens internacionais: Divórcio em Barcelona (2014) e Camille e Rodin em Buenos Aires. Em 2016, teve três peças em cartaz: Com Amor, Brigitte, no Masp, Chuva não. Tempestade, no Eva Herz, e Só Entre Nós, no Centro Compartilhado de Criação.
Em cinema, escreveu o curta Um Pouco Mais de Tempo, eleito o melhor curta do Festival Cultura Inglesa 2012. Neste mesmo ano, foi um dos 10 vencedores do edital de telefilme da Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo com a adaptação de sua peça Frames. Em TV, fez parte da equipe de roteiristas da série Terra2, da TV Cultura, e escreveu a série Chuva Negra para o Canal Brasil. Escreveu dois longas: Anjo da Guarda, em fase de pré-produção, e Casa da Árvore com direção de Flávio Moraes. Em 2022 desenvolveu em parceria com o ator Daniel Rocha a série Rooftop, que está em fase de comercialização.