Chegada da nova tecnologia vai ampliar uso de maquinários de última geração por todo o país e transformar o agronegócio com o sistema Internet das Coisas (IoT), acreditam especialistas
Sala da Central de Atendimento Pivot - CAP |
Divulgação |
O uso da tecnologia no campo é recente no Brasil. Em 1980, por exemplo, a colheita da cana-de-açúcar era feita por trabalhadores braçais, os chamados “boias-frias”, que perdurou até a década de 1990. Atualmente, 92% da cana é cortada por máquinas, conforme pesquisa da Companhia Nacional de Abastecimento. A realidade se repete em outras culturas que utilizam a tecnologia para facilitar o trabalho e gerar mais produtividade. Neste meio de ano, próximo ao Dia do Agricultor, celebrado em 28 de julho, o homem do campo ganha um novo motor para facilitar o crescimento do agronegócio: o 5G.
Adotada em alguns países, a tecnologia 5G é até 20 vezes mais rápida do que o 4G e seu alcance também é um fator determinante. Regiões remotas do País e grandes extensões de terra tendem a ser muito beneficiadas com a cobertura da nova tecnologia, que já funciona em Brasília e deve ser instalada em todas as capitais ainda neste ano.
“O 5G vai permitir a conexão de vários dispositivos à internet, viabilizando a implementação da Internet das Coisas (IoT) em larga escala. A rapidez da nova tecnologia vai deixar tudo interligado e acessível, fazendo com que o agricultor possa, por exemplo, monitorar máquinas e auxiliar nas tomadas de decisões rápidas e precisas, ampliando o acesso aos sistemas de telemetria que já existentes”, explica o gerente de tecnologia da Pivot Máquinas Agrícolas e Sistema de Irrigação, José Henrique Gross. A IoT, como diz Gross, é o nome que se dá a rede de objetos físicos incorporados a sensores, software e outras tecnologias com o objetivo de conectar e trocar dados com outros dispositivos e sistemas pela internet.
Gross lembra que a Pivot, mesmo antes da 5G, já oferecia o sistema de acompanhamento de desempenho das máquinas agrícolas de forma on-line e, inclusive lançou uma central, que acompanha todo o maquinário comercializado e consegue detectar alguma possível falha em tempo real, passando todo o diagnóstico ao cliente e o que ele precisa fazer para não parar a lavoura. Mas com a novidade, mais agricultores poderão ter acesso ao acompanhamento direto do campo.
Agricultor Eduardo Ville Lieshout proprietário da fazenda Gaulanda, em Silvânia |
Transformar o agro
Com rapidez no acesso e funcionando em lugares que não existem sinais de telefonia, o sistema 5G vai transformar o agro brasileiro, conectando grandes maquinários, drones, tablets e computadores. É o que acredita o agricultor Eduardo Ville Lieshout, de 50 anos, proprietário da fazenda Gaulanda, no município de Silvânia (GO). Ele planta milho e soja e diz que a nova tecnologia é muito aguardada. “O 5G é uma espera muito grande para nós, do agro, para ver a melhora da qualidade da internet e a interligação entre máquina-central-escritório. Hoje, nem todo lugar pega internet e o sinal não é tão perfeito como precisamos”, detalha.
Eduardo faz parte da maioria dos agricultores brasileiros - 84%, que utilizam ao menos uma tecnologia digital como ferramenta de apoio à produção agrícola, de acordo com pesquisa realizada pela Embrapa, pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Mesmo com todo o empecilho, o uso da tecnologia no campo é um caminho sem volta. Ajuda a parar menos o serviço, consegue controlar o plantio com menos mão de obra e temos mais eficiência”, resume o agricultor.
O produtor de milho e soja explica que vem há muito tempo investindo em máquinas de última geração. “Investimos em maquinário, com colheitadeiras com mapeamento, câmeras, plantadeiras com zero amassamento (que realiza o plantio com desligamento automático das linhas no lugar que acontecerá o tráfego de pulverizadores e distribuidores), tratores e pulverizadores com telemetria”.
Gaúcho de Não-me-Toque, Ville Lieshout afirma que toda a sua propriedade em Goiás está conectada. “Atualmente, 100% da fazenda tem agricultura de precisão e vamos iniciar, ainda em julho, a colher os dados de monitoramento das máquinas, a pulverização, o plantio. Vou estar com uma tela acompanhando o rendimento das máquinas e toda a produtividade”, descreve Eduardo, que explica ainda que aplicações mais especializadas, reduzir custos ou ainda agregar valor à produção já estão no radar dos produtores rurais, com potencial de expansão.
Jovens
O uso da tecnologia no campo e seus benefícios são confirmados pelo gerente comercial da Pivot em Goiânia, Manoel Velasco Padilha, de 42 anos. “Hoje está cada vez mais difícil aumentar a área da propriedade para plantar mais, por causa dos preços da terra ou do arrendo da terra. Para conseguir, é necessário buscar a tecnologia para produzir mais dentro da área. Na Pivot, a busca é enorme e, em grande parte, pelos filhos dos agricultores, que estão mais ligados às novidades”, detalhou.
A empresa é representante de máquinas agrícolas CASE IH, de sistemas de irrigação por pivô central Lindsay. Segundo Manoel Padilha, o grupo, que possui lojas em Goiás, Bahia e Tocantins, enxergou esse movimento tecnológico e, além de vender maquinários de última geração, lançou uma central de atendimento 24 horas que ajuda o agricultor com dados de telemetria e desempenho.
“A empresa enxergou todo esse movimento antes das outras concessionárias e se estruturou. Montou o CAP (Central de Atendimento Pivot) para tirar dúvidas dos clientes, desenvolver mapa de consumo, de produtividade, ou mesmo se a máquina apresenta defeito. Temos todas as informações do pivô e dos maquinários em tempo real. Se algo ocorrer, algum problema for apontado, a gente fica sabendo até antes do produtor. Se o problema persistir, avisamos o cliente com todos os dados. Hoje, 92% dos atendimentos são resolvidos rapidamente por lá, o que resume em produtividade e rapidez, já que não precisa deslocar um técnico até a propriedade, que pode perder um ou dois dias”, detalhou.