Pandemia, lockdown em algumas regiões da China e inflação alta deixaram as roupas 10,6% mais caras em todo o país. Investimentos no setor têxtil seguem congelados
Aumento nos preços de lenha, gás, energia e algodão congelaram investimentos das indústrias têxteis |
Pandemia, lockdown na China e inflação alta impactaram no preço das roupas |
O índice de inflação divulgado em maio pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) atingiu 11,73%. Nas prateleiras dos supermercados, alimentos e bebidas estão mais caros, mas é nas lojas de roupas que o consumidor sente um impacto ainda maior nos preços. No topo da lista dos produtos que mais puxaram a inflação neste ano, os itens de vestuário respondem por uma das maiores altas, 10,69%.
Se por um lado o consumidor convive com um poder de compra ainda mais reduzido, por outro, a indústria têxtil, pressionada pelos custos de produção, enfrenta turbulências na gestão de caixa capazes de comprometer gravemente a saúde e a sustentabilidade dos negócios.
A Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção) projeta em seu relatório mais recente uma intensa desaceleração para o setor até o final de 2022. Segundo a entidade, o crescimento de produção deve ficar em 1,2%, frente aos 11,7% registrados no ano passado.
“Tanto nos itens de confecções mais populares quanto nas peças vendidas nas redes de fast fashion, o consumidor se depara com um aumento considerável dos preços nas etiquetas. Hoje a maior parte das roupas adultas e infantis passam dos três dígitos. Isso vem sendo sentido principalmente em lojas de confecções que antes eram mais acessíveis à grande população. Porém a inflação vem impactando o setor como um todo, inclusive no caso das grifes”, explica Nicholas Coppi, tributarista da Coppi Advogados Associados.
Causas e consequências econômicas
De acordo com a Abvtex (Associação Brasileira do Varejo Têxtil), há pelo menos três pontos de pressão que explicam os valores praticados atualmente nas lojas. O primeiro é o custo da cadeia produtiva, sentido principalmente a partir do segundo semestre de 2020, quando houve o fechamento do comércio na pandemia e a paralisação das indústrias têxteis.
O segundo ponto de pressão ocorre a partir do primeiro trimestre de 2021, sem a recuperação econômica esperada pelo comércio e indústria. O terceiro aspecto destaca os novos casos de Covid-19 na China e a imposição de lockdown no país, de onde vem a maior parte dos acessórios e tecidos para o mercado brasileiro.
As consequências econômicas são sentidas não apenas no varejo, mas também nos polos da indústria têxtil e de confecção no Brasil. Um desses conglomerados está localizado em Americana (SP). Na Região Metropolitana de Campinas (RMC), o polo concentra mais de 600 empresas.
Segundo informações do Sinditec, que representa as empresas do polo Têxtil de Americana, Santa Bárbara d' Oeste, Nova Odessa e Sumaré, o aumento nas despesas com lenha, gás, energia e também os custos do algodão, ajudaram na disparada dos preços.
“De grande importância para o País, este centro se ressente fortemente dos impactos da inflação”, afirma. O setor têxtil é o segundo maior em número de empregos na indústria de transformação no Brasil. De acordo com dados da Abit, as empresas formais neste segmento chegam a 25,2 mil e as vagas diretas somam 1,5 milhão no país. “Por isso, quando em alta, a inflação desestimula o investimento e a ampliação da capacidade produtiva. E isso afeta, especialmente a contratação de mão de obra no setor têxtil, que é um dos que mais emprega hoje no país”, explica.
Momento de turbulência requer planejamento tributário
Com atuação em empresas do polo têxtil de Americana (SP), Coppi destaca a importância do planejamento tributário para manter a saúde e a sustentabilidade dos negócios no atual momento. O planejamento pode ser uma alternativa para ajudar empresas e indústrias em momentos críticos como esse.
“Com o trabalho do especialista tributário é possível realizar uma análise profunda e criteriosa da documentação da empresa. Nesta tarefa se inclui a revisão tributária, que permite identificar o que pode ter sido pago a mais, com possibilidade de restituição de valores ao contribuinte. Dinheiro em caixa representa investimentos e geração de empregos”, destaca.
O advogado ressalta ainda a necessidade de uma atualização constante sobre a legislação tributária. “Muitas das mudanças legais são favoráveis ao contribuinte e não devem, de forma alguma, ser negligenciadas pela empresa”, diz. “A partir de um trabalho especializado, é possível, inclusive, rever a carga de impostos e os benefícios a que o empresário tem direito”, completa Nicholas Coppi.