Viver - Saúde

Congelar óvulos antes dos 38 anos traz maior taxa de sucesso na Fertilização In Vitro

12 de Julho de 2022

Maior relatório americano sobre preservação eletiva da fertilidade apontou que criopreservação dos óvulos tem maiores chances de sucesso do que Fertilização In Vitro com óvulos recém-coletados, inclusive em mulheres que já sofrem com o declínio natural da fertilidade

Congelamento

Quando o assunto é fertilidade, as mulheres são reféns do tempo, já que nascem com um estoque finito de óvulos que diminui ao longo dos anos. “Aos 20 anos, a mulher está em seu ápice reprodutivo. Aos 30 anos, a fertilidade começa a diminuir de maneira gradual, principalmente após os 35 anos. Por volta dos 40 anos, antes mesmo do ínicio da menopausa, a maioria da mulheres já se torna incapaz de ter uma gravidez bem-sucedida”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Apesar disso, as mulheres têm engravidado cada vez mais tarde em todo o mundo. Para se ter uma ideia, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos 10 anos, o índice de mulheres grávidas dos 35 aos 39 anos aumentou 63%. Em contrapartida, o número de gravidez até os 19 anos caiu 23%. O mesmo ocorre nos Estados Unidos, onde, segundo o U.S. Census Bureau, as taxas de fertilidade entre mulheres de 35 a 39 anos aumentaram 67% em um período de 30 anos, enquanto, em mulheres de 20 a 24 anos, esse índice reduziu 43%. E, de acordo com um estudo publicado em maio na revista cíentifica Fertility & Sterility, o congelamento de óvulos é a principal estratégia para garantir maior autonomia reprodutiva às mulheres, possibilitando uma gravidez de sucesso mais tarde na vida.

Nesse estudo, que é considerado o maior relatório americano até então sobre preservação eletiva de fertilidade, os pesquisadores descobriram, com base em dados coletados ao longo de 15 anos, que 70% das mulheres que congelaram no mínimo 20 óvulos antes dos 38 anos tiveram pelo menos um bebê, sendo que um número considerável dessas mulheres ainda conseguiram engravidar novamente também através da criopreservação. Em comparação, de acordo com dados de 500 clínicas de fertilidade recolhidos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), apenas 30% das mulheres com 40 anos ficaram grávidas através de Fertilização In Vitro com óvulos recém-colhidos. “Isso porque, mesmo na FIV, é a idade do óvulo utilizado que determina o sucesso da gravidez. A chance de gravidez na FIV com óvulo próprio aos 44 anos é de 5% e aos 45 anos é menor que 1%. Já com o uso de óvulos congelados ou doados, as chances de gravidez por meio da Fertilização In Vitro aumentam para cerca de 60% por tentativa mesmo em mulheres que já apresentam uma idade mais avançada, com mais de 40 anos”, explica o médico, que ainda ressalta que o fato da mulher não ter passado recentemente pela indução medicamentosa da ovulação é outro fator que contribui para que as taxas de sucesso da Fertilização In Vitro com óvulos congelados sejam maiores do que com óvulos frescos. “Para que os óvulos sejam coletados e fecundados em laboratório, é preciso realizar a estimulação ovariana por meio do uso de hormônios, o que acaba prejudicando a receptividade endometrial e, consequentemente, a implantação do embrião no útero. Já quando usamos gametas previamente congelados isso não ocorre, já que o endométrio é preparado isoladamente, não havendo interferência hormonal”, diz o especialista.

No estudo foram incluídos dados de 543 pacientes com média de 38 anos no momento do congelamento dos primeiros óvulos, idade que já é considerada acima da ideal para esse procedimento. “Não existe uma idade que contraindique o congelamento de óvulos, mas o recomendado é que seja realizado até os 35 anos, pois, quanto mais jovem a mulher no momento do congelamento, maiores serão as chances de o óvulo gerar um bebê. Mas é possível congelar os óvulos até 41 ou 42 anos. Já após os 43 anos, a probabilidade de o óvulo gerar um bebê é muito reduzida, então talvez não valha muito a pena”, destaca o Dr. Rodrigo. Em conjunto, as pacientes do estudo foram submetidas a 800 ciclos de congelamento de óvulos, 605 descongelamentos e 436 transferência embrionárias entre 2005 e 2020. Após análises dos resultados, os pesquisadores observaram que 39% das mulheres entre 27 e 44 anos, que, em sua maioria, tinham entre 35 a 40 anos no momento do congelamento dos óvulos, tiveram pelo menos um filho, o que é comparável ao resultado da Fertilização In Vitro com óvulos frescos para essa idade. Já as mulheres que congelaram ao menos 20 óvulos apresentaram uma taxa de 58% de nascimento de bebês saudáveis, o que supreendeu os estudiosos visto que parte desse grupo era composto de mulheres que já haviam passado de seu ápice reprodutivo. Na verdade, 14 dessas pacientes congelaram os óvulos entre 41 e 43 anos e ainda assim conseguiram ter filhos. Por sua vez, as mulheres que congelaram pelo menos 20 dos óvulos antes dos 38 anos tiveram um índice de sucesso de 70%. “Sempre recomendamos que sejam congelados cerca de 20 óvulos. É claro que, quanto mais óvulos, melhor. Porém, sabemos que a maioria das mulheres não consegue alcançar esse número em uma única coleta, sendo necessárias então duas ou três coletas para chegar à quantidade recomendada”, afirma o médico.

Os pesquisadores ainda destacaram no estudo que o tempo que os óvulos permaneceram congelados não interferiu nas chances do procedimento, o que é uma excelente notícia para as mulheres que sequer possuem uma previsão de quando desejam ter filhos. “Quando o congelamento é realizado por profissionais experientes em clínicas qualificadas, é possível manter os óvulos congelados por um longo período. Isso é possível graças à técnica de vitrificação, na qual os óvulos, após serem submetidos a um processo de desidratação, são rapidamente congelados a uma temperatura de 196°C negativos. Dessa forma, sua qualidade é preservada, visto que não há formação de cristais de gelo ou danos celulares, o que faz com que sua sobrevivência ao descongelamento seja de 95%”, destaca o especialista.

Além disso, o estudo também destacou a importância do escaneamento genético dos embriões provenientes dos óvulos congelados, o que contribuiu para uma diminuição no número de abortos e aumento das taxas de gravidez por cada transferência embrionária. “Esse é um dos avanços na seleção de embriões que nos permitem transferir apenas um embrião para o útero por vez, reduzindo assim o risco de gêmeos. Com o embrião certo, a maioria das mulheres terá uma chance muito mais alta de ter um filho com vida e podemos diminuir o risco de complicações e de uma gravidez múltipla”, explica o Dr. Rodrigo.

O grande diferencial do estudo está no fato de ser baseado em prática clínica real e de longo prazo e não apenas em modelos matemáticos com dados limitados, que é o mais comum quando se trata do assunto. “Estudos como esse contribuem para informar as pacientes sobre a importância do congelamento de óvulos para impedir o declínicio da fertilidade relacionado à idade, assim garantindo que as mulheres tenham mais autonomia sobre quando desejam engravidar, podendo focar em outros fatores, como carreira e socialização, sem precisar se preocupar se conseguirão construir uma família quando estiverem prontas. E as taxas de sucesso do procedimento podem ser ainda maiores do que as relatadas no estudo dependendo da idade da paciente no momento do congelamento dos óvulos e do número de ciclos de coleta realizados. Quanto mais jovem a paciente e maior o número de óvulos congelados, melhor”, completa o Dr. Rodrigo Rosa. E os pesquisadores ressaltam que pesquisas com um número maior de participantes já estão em andamento para ajudar a alinhar as expectativas das pacientes sobre as taxas de sucesso desse tipo de procedimento.

FONTE: DR. RODRIGO ROSA - Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo, e do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Instagram: @dr.rodrigorosa

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