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Gustavo Sung, economista responsável pelo relatório de macroeconomia

6 de Dezembro de 2021

Destaques:

●       Diante das últimas declarações de membros do comitê e sem grandes surpresas nos índices de inflação, nossa expectativa é de um aumento de 1,5 p.p. na Selic;

●     Entretanto, ao nosso ver, para cumprir com a meta estipulada, o Banco Central deveria ter uma postura mais hawkish;

●       Apontamos três fatores que devem permear as discussões: expectativas de inflação, risco fiscal, política monetária norte-americana;

●         A tendência é de que os juros continuem em patamares elevados em 2022;

●        Trazemos uma seção com os impactos dos juros sobre os mercados.

Na terça-feira (07/12), teremos o primeiro dia de reunião do Copom, com a decisão da taxa de juros saindo no final da quarta-feira (08/12). No último comunicado, a autoridade monetária anunciou um aumento de 1,5 p.p. para essa semana.

O Copom tem deixado claro que seu objetivo é levar a inflação ao centro da meta no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023, e poderá aumentar mais os juros se for necessário.

Contudo, a autoridade coloca na balança os impactos da alta da taxa de juros no crescimento do ano que vem. O receio é jogar a Selic a um patamar que reduza, em muito, a atividade econômica, levando a inflação para abaixo da meta nos próximos anos.

Na ata da última reunião, o Banco Central (BC) sinalizou que vem fazendo simulações com diversas trajetórias para os juros e que o atual voo da política monetária é suficiente para convergir a inflação para o alvo no horizonte relevante.

Diante das últimas declarações de membros do comitê e sem grandes surpresas nos índices de inflação – IPCA-15 e IGP-M –, nossa expectativa é de um aumento de 1,5 p.p. na Selic, na quarta-feira.

Ao mesmo tempo, o BC ganha tempo para analisar os desdobramentos das questões fiscais e a evolução da atividade econômica. Quanto maior a taxa de juros, menores as perspectivas de crescimento no próximo ano.

Entretanto, ao nosso ver, para cumprir com a meta estipulada, o Banco Central deveria ter uma postura mais hawkish. Ou seja, um comportamento mais firme contra a inflação.

Três motivos baseiam nossa tese.

Primeiramente, as expectativas de inflação. Nos últimos boletins Focus, o mercado vem piorando as estimativas para a inflação de 2022. Na última edição, já vimos o índice bater o limite superior da meta do Banco Central, de 5,0% ao ano. Ainda, para piorar, o mercado já enxerga uma inflação acima da meta em 2023 e 2024.

Caso os agentes econômicos comecem a enxergar que a autoridade monetária não irá conseguir controlar os preços no médio prazo, eles já podem incorporar esse aumento, o que pressionaria mais a inflação.

O segundo motivo é a deterioração do cenário fiscal. Desde a demissão dos secretários do Ministério da Economia, da admissão da PEC dos precatórios no Congresso Nacional e com a perspectiva de crescimento dos gastos em ano eleitoral, o risco fiscal do Brasil aumentou.

As últimas semanas foram conturbadas com propostas de mudança da base de cálculo do teto de gastos e manobras para encaixar programas sociais e medidas populistas. As incertezas e a piora da imagem do país levam à desvalorização cambial

Diante desse cenário, o prêmio de risco exigido pelos investidores para entrar no mercado brasileiro também se elevou. Tais incertezas se refletem em desvalorização cambial, aumento dos preços e juros mais altos.

Por fim, o último item que corrobora para uma atitude mais tempestiva do BC é a política monetária norte-americana. O Banco Central dos EUA, o Fed, iniciou recentemente a retirada dos estímulos econômicos, com a redução da compra de ativos, um processo conhecido como tapering.

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