Viver - Saúde

É provável que a maioria dos casais tenha que usar a reprodução assistida em um futuro próximo?

23 de Novembro de 2021

Recentemente, o livro Count Down fez uma revelação que chocou grande parte da imprensa mundial: a contagem média de espermatozoides entre os homens ocidentais caiu mais da metade nos últimos 40 anos.

 

Reprodução assistida

O livro Count Down, da autora e cientista Shanna H. Swan, PhD e um dos maiores nomes entre epidemiologistas ambientais e reprodutivos do mundo, teve no começo desse ano um impacto gigante na imprensa mundial sobre o alerta da queda da contagem e qualidade dos espermatozoides entre os homens ocidentais nos últimos 40 anos. A autora deu entrevista prevendo que a maioria dos casais tenha que usar métodos de reprodução assistida num futuro próximo. Mas o que a ciência diz sobre isso? “A ciência está debruçada sobre esse tema sobre o qual as pessoas não gostam de falar: a subfertilidade ou problemas reprodutivos. A autora, em específico, defende que isso está ligado ao meio ambiente. Muitas pessoas estão reconhecendo que temos uma crise de saúde reprodutiva, mas dizem que é por causa do atraso na procriação, escolha ou estilo de vida. Isso também está envolvido, mas temos que considerar a ligação dos produtos químicos como um papel causal importante. É difícil usar a palavra “causa”, mas há um corpo de evidências. Temos mecanismos, estudos em animais e vários estudos em humanos que mostram que existem desreguladores endócrinos, advindos de produtos químicos, que têm mexido com nosso sistema reprodutivo”, explica Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Os desreguladores endócrinos imitam os hormônios do corpo e, portanto, enganam nossas células. “Este é um problema específico para os fetos, pois eles se diferenciam sexualmente no início da gravidez. Os desreguladores endócrinos podem causar estragos reprodutivos”, diz o Dr. Rodrigo Rosa. “Esses desreguladores endócrinos estão por toda parte: plásticos, xampus, cosméticos, almofadas, pesticidas, alimentos enlatados e recibos de caixas eletrônicos – papéis térmicos usados em máquinas de cartão de crédito ou em nota fiscalpode contaminar o corpo com Bisfenol A. Eles geralmente não estão nos rótulos e podem ser difíceis de evitar”, explica o médico. Para a autora, a projeção de que a maioria dos casais terá de utilizar técnicas de reprodução assistida está vinculada a esses produtos químicos. Ela diz que mulheres mais jovens tinham experimentado um aumento maior em técnicas de reprodução assistida do que os grupos de idade mais avançada. “Isso sugere que algo além do envelhecimento e do atraso na procriação está afetando a fertilidade”, explica o Dr. Rodrigo.

Os piores desreguladores endócrinos são aqueles que podem interferir ou imitar os hormônios sexuais do corpo - como a testosterona e o estrogênio. “Eles podem fazer o corpo pensar que tem o suficiente de um hormônio específico e não precisa produzi-lo mais, então a produção diminui”, diz o Dr. Rodrigo. Entre os principais exemplos: os ftalatos. Eles são usados para tornar o plástico macio e flexível, mas se tornaram uma preocupação primordial. “Provavelmente estamos principalmente expostos através dos alimentos, pois usamos plástico macio na fabricação, processamento e embalagem de alimentos. Eles diminuem a testosterona e, portanto, têm as influências mais fortes no lado masculino, por exemplo, diminuindo a contagem de espermatozoides, embora também sejam ruins para as mulheres, pois diminuem a libido e aumentam o risco de puberdade precoce, falência ovariana prematura, aborto espontâneo e parto prematuro”, explica o médico. Já para as mulheres, o bisfenol A (BPA) é ainda pior. Ele é usado para endurecer o plástico e encontrado nos recibos das caixas e no forro de alguns recipientes de comida enlatada. “Em contato com o corpo, ele imita o estrogênio e, portanto, é um ator particularmente ruim no lado feminino, aumentando os riscos de problemas de fertilidade”, explica.

“Então, concluindo, há sim o risco de o problema da sub e infertilidade aumentar no mundo”, alerta o Dr. Rodrigo. Para mudar essa realidade, a autora propõe que a indústria química deve começar a produzir produtos químicos que possam ser usados em produtos de uso diário que não sejam hormonalmente ativos. Mas, enquanto isso não acontece, o Dr. Rodrigo Rosa alerta: “Pessoas em idade reprodutiva, especialmente aquelas que planejam engravidar, devem estar cientes de que tudo o que trazem para casa tem o potencial de conter esses produtos químicos. Na medida do possível, coma alimentos não processados, pois isso deve reduzir a exposição através do plástico. Além disso, ao cozinhar, não use teflon ou qualquer coisa revestida e não aqueça no micro-ondas em potes de plástico. Para produtos de higiene pessoal e domésticos, use um mínimo de produtos simples e tente evitar aqueles que sejam perfumados; ftalatos são adicionados para reter o perfume. E, se tiver dificuldade para engravidar, o casal deve procurar um médico especialista”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.

FONTE:

*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

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