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Bloqueio do Canal de Suez alerta para necessidade de estudo de rotas de exportação alternativas

29 de Março de 2021

Cerca de US$ 400 milhões por hora é o prejuízo que o bloqueio do Canal de Suez pelo navio Ever Given vem causando, de acordo com a Lloyd’s List Intelligence. Na tarde de quinta-feira, 25, havia mais de 150 navios na fila aguardando para passar pelo lugar onde transita cerca de 12% do comércio global.

O bloqueio deve provocar atrasos e gerar custos extras para as empresas de logística, causando impacto global no comércio de manufaturados, como eletrônicos, máquinas e roupas, além do petróleo, que registrou alta de 6%.

O fechamento da passagem também pode afetar especialmente a indústria de energia. Mas segundo especialistas, tudo isso poderia ter sido evitado com um estudo de rotas eficiente.

"Assim como ocorreu no Canal de Suez, muitos acontecimentos impossíveis de adivinhar  impactam na operação logística. Quanto maior o nível de planejamento e estudo, e quanto mais se tentar alcançar a previsibilidade nessas operações, menos surpresas negativas os players terão", analisa Helmuth Hofstatter, CEO da LogComex, startup líder no fornecimento de dados e inteligência para o comércio exterior.

Custos

Ainda segundo Hofstatter, muitos custos cobrados em uma operação de transporte internacional estão associados à escolha da rota, por esse motivo é necessário conhecer quais taxas são aplicadas em determinados locais e identificar onde isso ocorre com frequência. 

"Além de pedágios, que são as mais comuns, existem outras taxas que são cobradas em determinadas regiões que estejam em guerra, por exemplo, ou em que exista alta incidência de roubo, ou lugares onde há dificuldade na atracação do navio. Para cada movimento não planejado que acontece existem custos: a taxa de congestionamento, a capacidade de eficiência de armazéns e terminais, a greve dos caminhoneiros. O estudo de rotas deve apresentar diferentes cálculos de viabilidade financeira, incluindo os fatores de risco e seus custos", diz.

Para o especialista, uma das ferramentas para fazer esse planejamento é a utilização de big data na logística, tecnologia que auxilia o comércio exterior a ter mais previsibilidade nas operações. Por meio de softwares, o sistema coleta, organiza e apresenta uma grande variedade de dados que, transformados em informações, indicam uma melhor tomada de decisão para a escolha das rotas e para a negociação internacional, além de contribuir com o aumento da competitividade no mercado.

“Justamente por episódios como esse do Canal de Suez é que exportadores e importadores devem estar atentos para driblar possíveis atrasos logísticos por meio da análise de dados para definição de uma nova rota nos próximos embarques ", explica.

Para Pedro Souza, gestor de operações da Pinho Logística, especializada em comércio exterior e logística aduaneira, muitas vezes uma mercadoria percorrerá grandes distâncias no país até chegar no porto ou aeroporto em que será embarcada. Esse trajeto ocorre normalmente no modal rodoviário e, além disso, é comum na rota para outros países ainda necessitarem de transbordo (a troca da carga para outro navio).

“Visto a complexidade a que uma exportação pode estar sujeita, nota-se a importância de estudar rotas logísticas e como isso pode beneficiar a operação nos seguintes fatores: gerenciamento de risco, análise de custos, visibilidade operacional, tempo de trânsito e sustentabilidade”, explica.

Planos alternativos

Segundo os especialistas, é muito difícil prever todos os tipos de riscos que podem ocorrer na logística, até porque essa atividade tomaria grande parte do tempo da equipe apenas para estudo, mas é necessário a criação de planos alternativos. "Essas ocorrências podem interferir no planejamento das rotas, por isso, é muito importante ter planos alternativos, deixar a equipe preparada para lidar com situações inesperadas e possuir um grande networking que possa auxiliar com outras soluções", diz Souza.

Consequências para o Brasil e Europa

Para Kamilla Pierin, custumer success da LogComex, o impacto do bloqueio no Canal de Suez também será sentido no Brasil a longo prazo. “As consequências a longo prazo, como a falta de containers, omissão e atraso de navios nos portos, nova alta de frete marítimo, podem nos afetar diretamente nosso país. Na Europa há risco de consequências mais diretas para a população, como a falta de suprimentos e equipamentos devido ao atraso dos navios”, analisa.

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