Colunistas - André Garcia

Parte III- Motocicletas, corredor e proibição da via expressa da Marginal Tietê

22 de Novembro de 2016
Cidade de NIteroi dá bom exemplo da possível convivência de moto na faixa exclusiva de ônibus - Foto: site NitTrans

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No terceiro e último texto sobre Segurança Viária na cidade de São Paulo e manipulação de informações que engana os cidadãos em relação a Segurança Viária, trataremos da motocicleta.

Se no primeiro mundo o modal motocicleta é alternativa a mobilidade urbana, por ocupar pouco espaço público, consumir menos combustível e por não colaborar com os grandes engarrafamentos, bem como, não ficar parado no trânsito, no Brasil, especialmente na cidade de São Paulo é demonizado e pior foi completamente ignorado nos últimos quatro anos pela gestão da Prefeitura de São Paulo e CET/SP, inclusive o posicionamento de ambas na imprensa levou uma maior animosidade na convivência com pedestres, automóveis, ônibus, caminhões, bicicletas. Tudo é culpa do motociclista que é um marginal que busca a morte, todavia, como veremos, não é bem assim e a questão ultrapassa a discriminação.

CEPAM – Radial Leste

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Em 2012 a CET/SP e a ABRACICLO firmaram convênio criando o CEPAM – Centro Educacional Paulistano de Motociclistas, inclusive como noticiado no próprio site da CET, click aqui para ler.

A ABRACICLO investiu R$ 520 mil reais para adequação do Espaço Vivencial de Trânsito Chico Landi na Radial Leste – Rua Vilela nº 572.

Ao apagar das luzes da gestão Kassab em 28/12/2012, foi inaugurado o espaço, click aqui para ler.

Sabe quando foi utilizado nesses quatro anos???

Foto que com minha colega Suzane Carvalho tiramos no dia da inauguração.

NUNCA!

Eu mesmo enviei dezenas de e-mail´s a CET/SP que informava não ser possível sua utilização ou nem foi respondido.

Meu objetivo era realizar eventos de segurança de trânsito com foco na motocicleta, aliás, como faz o Projeto Motociclismo com Segurança click aqui para saber, de minha autoria, há 4 anos, sem qualquer ônus ao cidadão.

Pior, o local foi destruído.

Proibição na via expressa Marginal Tietê

Mesmo pedindo inúmeras vezes dados estatísticos de acidentes com motocicleta na via expressa da Marginal Tietê na década 2000-2010, a CET/SP omite, simplesmente não responde.

Sabe por que?

Porque a maioria dos acidentes fatais com motociclistas na Marginal Tietê ocorreram na pista local e não na expressa.

Então, por quê foi proibida a expressa?

Só a CET/SP pode responder, todavia, cuidado com a resposta que não será técnica.

Único dado que consegui do ano de 2008, das 29 mortes na Marginal Tietê, 20 foram na pista local e 9 foram na expressa. Todavia, quais as circunstâncias do acidente? De quem foi a culpa?

Gostaria muito de oferecer uma carona a quem decidiu tal questão, saindo da Ponte João Dias até a Via Dutra.

Tal decisão é tão insana que falta adjetivo.

Jogaram o motociclista só na pista local, exatamente onde caminhões e ônibus buscam sair da Marginal Tietê.

Em 6 anos de proibição, não houve redução substancial de mortes na via, há uma variação de ano para ano, no entanto, está demonstrado que a proibição da via expressa foi só para “grego” ver, há muito mais segregação do que proteção.

Os números da CET/SP demonstram isso: 2015 – 13 mortes, 2014 – 18 mortes, 2013 – 21 mortes, já com a proibição da via expressa desde 2009.

Corredor – Proibir vai matar mais gente!

Dr. Osvaldo Negrini Neto, Mestre em física, Perito criminal, Professor de Criminalistica e Física e Ex-diretor do Instituto de Criminalística de São Paulo, autor de livros sobre perícia em acidentes de trânsito:

 “O motociclista andar a frente ou atrás dos carros pode trazer um perigo adicional, que é a distância de segurança. É muito mais dificil manter a distância de segurança de uma moto do que de outro veiculo de maior porte. Se obrigarmos cada moto a andar atrás de outra moto e de outro carro, as filas que já existem na cidade vão virar quilométricas. Proibir motociclista de andar nos corredores, a mobilidade urbana vai desaparecer.”

Vira e mexe aparece um especialista em trânsito que não anda de moto, não conhece sua dinâmica, receitando a proibição da motocicleta no corredor como salvação da pátria.

Com todo respeito, especialista em trânsito que opina sobre motocicleta, sem utilizá-la, sem entender sua dinâmica, é o mesmo que um médico oftalmologista receitar sobre câncer de próstata.

O Estado da Califórnia nos EUA, legalizou o corredor após constatar por meio de estudo da Universidade de Berkeley que dos 6 mil acidentes entre outubro de 2012 e agosto de 2013, apenar 3% das motocicletas estavam no corredor, outros 97% foram alvo de abalroamento onde ou a motocicleta foi atingida na traseira ou a própria atingiu a traseira de um automóvel, quando não ficou entre dois automóveis sofrendo esmagamento e óbito do motociclista.

Muito se critica o uso do corredor, todavia, são ignoradas as causas de acidente:

- Uso de película escura no automóvel: utilizado fora dos parâmetros determinado pelo CONTRAN, o escurecimento do habitáculo faz com que o condutor perca visibilidade periférica e, por conseguinte, perde noção de espaço, bem como, o uso da película mais escura nos vidros traseiros colaboram para com a perda de visibilidade dos outros condutores, além dos motociclistas e ciclistas, não sendo possível antecipar uma frenagem, por exemplo, causando engavetamento;

- Celular: mesmo com o aumento da pontuação e da multa, entendo ser pouco, a punição; deve ser equiparada a quem dirige alcoolizado, bem como, criminalizar a utilização do celular pelos motoristas que, especialmente, encorajados pela película escura, se sentem no direito de enviar mensagens de textos, socializar-se nas redes sociais e conversar. Resultado: morte no trânsito. É necessário investigar, triangular os sinais do celular para saber se no exato momento do “acidente” o motorista utilizava famigerado aparelho;

- Faixas de rolamento: sempre menciono esse péssimo exemplo, todavia, se o padrão mundial das faixas de rolamento é de 3,50 metros de largura, no Brasil é diferente. Vide a Avenida 23 de Maio que na gestão do Sr. José Serra, hoje Ministro das Relações Exteriores, permitiu a criação de mais uma faixa de rolamento nesta avenida, diminuindo a largura dos 3,50 metros para 2,60 metros. Resultado: aumento de acidente com motocicletas.

- Velocidade em corredor: o motociclista precisa ter consciência de que sua utilização deve ser em velocidade moderada, com o trânsito totalmente parado, não deve ultrapassar 30Km/h e com o trânsito em movimento a velocidade não deve ser superior a 20 ou 30% dos outros veículos.

Para saber se está rápido, basta contar até 3, se pensar no numeral 1 ou 2, já ultrapassou o automóvel é porque está rápido demais.

A fiscalização tem que ser por agente munido de radar móvel e ou de automóvel à paisana com o radar, tecnologia existe para isso.

- Faixa exclusivas: Sou contra! Todo veículo à motor deve dividir a via pública, não faz sentido segregação, causando problemas para outros modais. Foi o caso da ciclofaixa(apesar de propulsão humana) que por falta de projeto, diminuiu as faixas de rolamento para motocicleta, automóveis, caminhões e ônibus (onde não há faixa exclusiva), fora o risco de acidente por invasão em um simples desvio. leia aqui sobre ciclovia/ciclofaixa

Se para a bicicleta a solução é a ciclovia, para motocicleta a solução são faixas de rolamento de no mínimo 3,50 metros de largura e a ressurreição da “faixa cidadã” ideia do engenheiro Roberto Scaringella, infelizmente falecido em 14 de junho de 2013.

A “faixa cidadã” foi uma ideia genial e a única vez que vi a CET/SP adotar uma política de inclusão da motocicleta no trânsito, com um recado muito claro: todos são responsáveis por todos. Motorista cuidado com o motociclista no corredor, motociclista diminua a velocidade e assim por diante.

A “faixa cidadã” tem o escopo do que foi feito nos EUA e Austrália em relação ao corredor utilizado pela motociclista, onde cada um tem que cumprir seu papel no trânsito

A via pública é de todos e deve ser utilizado com o mínimo de urbanidade.

- Liberação da faixa exclusiva de ônibus: Aqui um ponto de grande controvérsia. 

E antes que seja acusado, sou contra a faixa exclusiva para motocicleta, todavia, sou a favor do uso pelo motociclista da faixa exclusiva de ônibus.

No entanto, em vias onde houve estreitamento da faixa de rolamento é crucial para o motociclista poder contar com a faixa de ônibus, já que lhe confere maior mobilidade, reduz o tempo de viagem, diminuiu ainda mais o dióxido de carbono (que já é menor que os automóveis) e aumenta sua segurança em relação ao corredor de automóveis.

Evidentemente que a turma do contra ficaria enfurecido com mais esse “benefício” a motocicleta, todavia, não se trata de benefício, se trata de aumentar a margem de segurança.

Ok, a motocicleta tem 200kg e ônibus algumas toneladas, mas, além de mais espaço no corredor do ônibus, o grande veículo anda em velocidade menor e os automóveis também tem muito mais peso que motocicleta.

Em cidades como Londres, Lisboa (em fase de teste) e Niterói é liberado e tem tido muito sucesso.

Londres: a maioria das faixas de ônibus são liberadas, todavia, em outras há horário e dia específico, leia aqui o argumento do Prefeito e os mapas de onde é permitido.

Lisboa: iniciou os testes no primeiro semestre e tudo indica vai ficar. Leias matérias locais aqui e aqui.   

Niterói: desde 2014 o órgão responsável pelo planejamento de trânsito – Nit-Trans permite a motocicleta em trafegar nas faixas exclusivas de ônibus. Leia aqui e aqui

            O Poder local, concluiu que aumenta a segurança da motocicleta, bem como aumenta a fluidez do trânsito.

            Interessante que além das campanhas educativas para os motociclistas, investiram no treinamento e na orientação dos motoristas de ônibus.

Nos três casos de cidades e culturas diferentes, em comum todas com certa complexidade em seu trânsito e o mesmo objetivo: aumentar a segurança do motociclista, diminuir o tempo de viagem do motociclista, melhorar o fluxo do trânsito e no caso dos países europeus, ainda, colaborar com o meio ambiente.

E na maior metrópole brasileira?

Se Prefeitura e CET/SP discriminam a motocicleta, há anos criam um verdadeiro “apartheid” no trânsito paulista onde tudo é culpa da motocicleta, uma abelha me contou que tal assunto é proibido. 

Espero que com a nova gestão isso mude! 

Não tenho dúvida que seria uma solução interessante, especialmente em vias que se tornam insuportáveis para o motociclista como: Giovanni Gronchi, Francisco Morato, Rebouças, 23 de Maio, av. Paulista, Pacaembu, dentre outras mais a se pensar, lembrando da necessidade de fiscalização, orientação a sociedade e treinamento aos motoristas de coletivo.  

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