Por Cau Marques
Música é sempre sinal de festa. Qualquer manifestação cultural sempre é vista como grande motivo de celebração e alegria. É sim muito comum, virar tudo uma grande farra, mas nada comparado a farra que está acontecendo já há vários anos com o apoio e incentivo dado à cultura no Brasil, através da Lei Rouanet (Lei n 8.313 de 1991).
Como quase tudo que acontece em nosso país, a causa inicial é inegavelmente nobre, mas a máquina burocrática e fétida comandada por grande parte das pessoas com poder de decisão, acaba por selar sua tendência abusiva, corruptível e “cartelista”.
O artista, trupe, ou sei lá qual grupo que esteja desvinculado de uma grande facilitadora para se obter a “inestimável” vantagem de se ter algum pouco do imposto por nós mesmos pagos, está condenado ao nada.
Para se obter o direito a concessão deste direto, um calhamaço de páginas preenchidas com as especificações (ou códigos) precisam ser enviadas pelas pessoas “certas” para a aprovação da captação de uma pequena fatia tributária de pessoas ou empresas. Tudo tem que ser selecionado de uma maneira rigorosa e isto está certíssimo, mas a distribuição, igual tudo por aqui, está um lixo.
Aproveitadores políticos, organizadores de eventos e infelizmente alguns artistas também entram no esquema para dar alguma “superfaturada”, e mesmo que não superfature, quem não teria o sonho de fazer uma turnê inteiramente paga, independentemente do seu sucesso de público?
Claro que é muito correto que uma equipe de produção e todo o elenco envolvido em apresentações e espetáculos tenham seus salários garantidos para trabalharem com segurança e dignidade, mas infelizmente isto não tem acontecido da forma justa e idônea de se fazer.
É muito triste assistir a usurpação de um meio que visa levar cultura a todas as pessoas e manter o “circo” das artes funcionando pelo país. A pergunta recorrente é o porquê isso só acontece com artistas e projetos já renomados e de grande sucesso? Desde a literatura, passando pelas artes cênicas e a música, continuamos a assistir apenas o que passa pelo crivo do investimento das grandes mídias. Raramente é visado o objetivo de trazer algo novo, mas sim algo seguro.
A arte tem como principal característica a imprevisibilidade e, quando se ignora isso, ela se torna repetitiva, pobre e superficial.
A separação do investimento privado do público é essencial para a sobrevivência de qualquer empresa e não é diferente em relação a música e artes.
O ralo de boas intenções e das boas coisas está aberto e escoando em nosso país. A conscientização da maioria das pessoas é necessária e urgente. Chega de artifícios, a arte não pode sucumbir a este golpe e um país riquíssimo de talentos e artes das mais diversas não merece o mesmo destino corrupto da política e da economia.
A arte merece viver seu sonho eterno de estar além disso tudo e nós merecemos assistir de pé o final deste ato!