Por Cau Marques
Durante muitas décadas, uma das marcas mais relevantes da música brasileira foi o “Bucolismo” com fortes doses de outro elemento sempre presente que era o “Ufanismo”.
Parece papo de Professor Pasquale, mas esses dois elementos fizeram muita diferença nas composições nacionais por anos a fio e vale a pena analisarmos que o contexto político e social influenciaram e mudaram o modo de vermos e ouvirmos o mundo.
Bucólico, que significa: Campestre, rural, exaltação das belas paisagens do campo e seus atributos, é um tema que esteve enraizado na música sertaneja desde sua origem até o começo da década de 2010.
As histórias, glória e tristezas do povo do campo, chegavam pelos discos e pelas ondas das rádios AM e causava nas pessoas que viviam nas grandes cidades um sentimento de nostalgia por trazer à memória o paraíso natural que foi obrigado a ser deixado pela busca de uma vida economicamente melhor. Até 15, 20 anos atrás, o êxodo rural ainda era muito marcante em quem veio viver nas capitais e o sucesso de duplas que exaltavam esses valores do campo, foi absurdo. De Tonico e Tinoco até Victor e Léo e Paula Fernandes, passando por todos os outros a idéia eram os cenários e acontecimentos do campo e da vida rural, de “Cabocla Tereza”à “Tocando em Frente”, ou de “Moreninha Linda” à “Deus e Eu no Sertão”, toda idéia era fazer quem estava na cidade reviver a época rural de suas vidas ou das vidas dos pais e avós.
Esse movimento foi deixado de lado há alguns anos e foi trocado por um sentimento inverso, o do Urbanismo. Quase todas as letras de agora não exaltam mais o Bucólico e sim o “Alcoólico”, as baladas, as festas cheias de mulheres nas piscinas e as marcas de carro. Na minha humilde opinião, são temas que não deixam muito espaço pra que as música tenham a mesma qualidade de conteúdo que já tiveram.
A música brasileira foi inundada pelos mesmos conteúdos do “Funk carioca” e também da música POP Atual americana e agora todo mundo só quer falar de ostentação festas baladas ou ainda a competição de quem é o melhor na cama.
O Bucolismo se foi. Mesmo quando viajamos para o interior as festas e as baladas de lá perderam esse tema. O Ufanismo também foi deixado de lado, uma vez que grande parte das pessoas parece não mais ter orgulho do chão de onde vieram. Um sentimento negativo de vergonha em ser brasileiro, talvez pelo momento político realmente constrangedor, abateu o romance de viver e isso afetou a nossa arte.
O futuro pode estar em olharmos para trás um pouquinho e não deixarmos de lado nossa história e nossa cultura e que sempre tenhamos história e cenários bonitos para viver, cantar e sonhar.