Antônio Abujamra recebe o coreógrafo e fundador do Balé Folclórico da Bahia, Walson Botelho, nesta terça-feira (2/7), no Provocações. O programa vai ao ar a partir das 23h, na TV Cultura. Durante a entrevista, Botelho relata a trajetória da companhia, os preconceitos que sofreram, do sucesso internacional e do projeto social dedicado a crianças do Pelourinho.
Hoje com 25 anos, o Balé Folclórico da Bahia é referência nacional e internacional. Walson relembra das dificuldades que encontraram no início de carreira. O grupo enfrentou discriminação por ser composto por negros e por dançar música folclórica. “Éramos revistados e obrigados a entrar pela entrada de serviço”, explica.
Essa discriminação não impediu do grupo conquistar prêmios e projeção internacional. Para solucionar a questão, adotou a seguinte conduta: ‘Nós vamos entrar pela porta de serviço porque nós estamos trabalhando. Mas a grande diferença é que saímos pela frente com limusine e champanhe, essa é a grande diferença”.
Segundo o coreografo, o momento mais emocionante da companhia foi quando receberam o convite do governo Alemão para participar do Festival em Berlim, na Alemanha. “Talvez foi a coisa mais emocionante que nós passamos nesses 25 anos. E foi um sucesso muito grande. Nós fomos convidados para um espetáculo, neste festival, e fizemos outros 15 espetáculos, não somente neste festival, mas em diversas outras localidades na Alemanha”.
Ele conta que sempre teve objetivo de transformar o Viva Bahia em uma companhia profissional para que seus integrantes pudessem viver de sua arte. “Porque não ganhar dinheiro? Nós éramos uma companhia internacional conhecida pelo mundo inteiro. Mas era um grupo onde os componentes eram pedreiros, feirantes, pintores, mecânicos de dia e estrelas à noite. Viajavam o mundo inteiro, muitos analfabetos, não escreviam, nem liam, mas falavam inglês, francês, alemão, russo”, diz.
Em 1992 fez sua estreia internacional no renomado Festival da Alexander Platz, em Berlim, na Alemanha. Uma das apresentações de destaque foi na Bienal de Dança de Lyon, na França, quando se consolidou entre as mais importantes companhias de dança da atualidade.
Relata ainda a ajuda que recebeu de Antonio Carlos Magalhães: “Foi no governo dele que o Balé Folclórico da Bahia passou a se apresentar no teatro Miguel Santana, através do projeto criado por ele, quando na reforma do Pelourinho, o projeto chamado Pelourinho, Dia e Noite. O teatro Miguel Santana, que era um espaço maravilhoso, que estava fechado há muitos anos, foi reformado para o Balé Folclórico da Bahia. Foi uma maneira indireta que ele teve de nos ajudar, sem que estivesse nos apadrinhando”.
Walson revela também que a companhia durante esses anos só contou com o apoio cultural. “Nunca tivemos um patrocínio em 25 anos. Nós recebemos um apoio do Governo do Estado através da Secretaria de Cultura. [...] A gente termina utilizando todo o recurso das turnês internacionais, que é o que mantém a gente, na realidade, o ano inteiro e a gente não consegue fazer mais nada”.
O coreógrafo ainda explica o trabalho que sua companhia realiza com crianças do Pelourinho: “Os meninos de rua não permitiam que a gente trabalhasse normalmente. Então eles gritavam, jogavam pedra, faziam de tudo pra perturbar a ordem do nosso trabalho. Então pensamos, porque não trazer esses meninos pra dentro da sala de aula, para os ensaios, para eles verem o trabalho que a gente faz? E foi assim que começou o Balé Júnior, que faz 15 anos agora. Hoje nós atendemos mais de 300 crianças, e não só no Pelourinho, mas de toda Salvador, toda área metropolitana”.