Colunistas - Rodolfo Bonventti

Era uma vez na TV: A TV cria um novo personagem na nossa sociedade - o televizinho

15 de Setembro de 2010


Enquanto Assis Chateaubriand comemorava a estréia da TV no Brasil com um seleto grupo de convidados na Cantina do Romeu, lá na Rua Pamplona, e falava das maravilhas que os paulistas e os brasileiros ainda iriam ver na telinha, um pequeno...mas põe pequeno grupo nisso..., varava a noite pensando em o que colocar no ar no dia seguinte.

À frente desse grupo estavam Cassiano Gabus Mendes, Demerval Costa Lima e Luiz Gallon. Como contava Luiz Gallon (1928 - 2002), "eu fui o primeiro funcionário contratado da TV Tupi e lá no início fiz um pouco de tudo: fui contra-regra, decorador, programador de filmes e diretor. Aquilo era uma grande aventura cheia de sobressaltos, de problemas e novidades a cada dia".

A equipe formada inicialmente por Demerval e Cassiano tinha além de Gallon, um cenógrafo, o Carlos Jacchieri; um cenotécnico ou marceneiro conhecido como Miúdo e dois auxiliares, entre eles o hoje premiado ator Lima Duarte, além de dois câmeras. Pois é, essa era a grande equipe que tinha que colocar a emissora no ar no dia seguinte. Um absurdo se comparado aos dias de hoje, quando a equipe técnica é de longe muito maior do que os elencos que compõem os programas.

Com alguma experiência no cinema, Cassiano Gabus Mendes teve uma grande idéia: vamos passar filmes, criar um programa de esportes, um noticioso e investir em teleteatros. Pronto, estava formada a primeira programação semanal da tv brasileira! E parece que esse modelo original, apesar da nossa tão falada criatividade e jeitinho nacional, continua a mesma até hoje a dominar as programações das nossas emissoras.

O ator Lima Duarte conta que "no dia seguinte corremos para os consulados e as embaixadas em busca de filmes ou documentários. Qualquer coisa servia desde que preenchêssemos aquelas primeiras três horas de programação diária."

Aqueles filmes diferentes sobre experiências científicas, saúde, novas descobertas ou sobre determinados lugares até então tão distantes, começaram a fazer a cabeça dos telespectadores, donos dos primeiros aparelhos de tv, e de um novo público: os televizinhos.

A programação estava aprovada e a partir daquele momento, a televisão passou a desempenhar também um importante papel na nossa sociedade, já que ela era a responsável por reunir, por várias horas, vizinhos e famílias inteiras em frente àquele aparelho. Pelo menos das 19h às 22h, todos os dias, as pessoas se uniam em torno de uma grande novidade: a telinha mágica e suas novidades.

A pequena equipe passava quase 16 horas dentro daqueles estúdios, diariamente, porque tudo era feito muito artesanalmente e ao vivo. Mas as experiências se sucediam e os televizinhos aprovavam. Entre um número musical e outro, muitos deles previamente gravados no período da tarde, com cantores e conjuntos que já faziam parte do cast da "Cidade do Rádio", alguns programas começaram a emplacar.

No dia seguinte ao show de estréia, a equipe comandada por Cassiano já levava ao ar o primeiro programa jornalístico da telinha, o "Imagens do Dia". Era uma verdadeira aventura diária, de segunda a sexta-feira, já que as reportagens precisavam ser curtas e eram feitas com câmeras de cinema em filmes de 16 milímetros.


Mauricio Loureiro

Esses filmes com o material gravado precisavam ser revelados em um laboratório caseiro, pois os estúdios ainda não tinham essa infraestrutura, e muitas vezes eles chegavam em cima da hora do jornal começar, e por isso mesmo, iam para o ar da forma como eram entregues na emissora. O apresentador no primeiro dia foi o radialista Ribeiro Filho (1917 - 1992), logo depois substituído por Mauricio Loureiro Gama (1912 - 2004), que conduziu o telejornal por três anos. O responsável pelos textos era Rui Rezende e na equipe de cinegrafistas estavam Paulo Salomão e Jorge Kurkijian. Uma verdadeira aventura!

Outra grande aventura foram as primeiras transmissões esportivas, mas esse é um assunto para a próxima coluna. Até lá!
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