Viver - Saúde

Produção independente quebra tabus e reforça o empoderamento das mulheres

30 de Maio de 2022

A reprodução assistida é o caminho para alcançar o sonho da maternidade ou paternidade

A busca pela estabilidade financeira, inserção no mercado de trabalho ou ausência de um parceiro ideal estão entre os principais motivos que levam mulheres ou homens a terem seus filhos “sozinhos”. A sociedade moderna se depara com diferentes configurações familiares e, dentre elas, é possível destacar o aumento na decisão pela produção independente, constituindo, assim, as famílias monoparentais. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nos últimos anos houve um crescimento expressivo de importação de sêmen. Dado evidente pelo aumento desta procura em 97%, apenas no ano 2019, sendo grande parte composta por casais homoafetivos femininos e mulheres que partiram para a produção independente.

Desde 2017, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução sobre as normas para utilização das técnicas de medicina reprodutiva que garante que homens e mulheres possam ter um bebê sem a figura de um(a) parceiro(a) conhecido(a).

“Recentemente foram divulgados dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), do IBGE, que mostram o crescimento destes formatos e apontam que atualmente seis em cada dez lares brasileiros abrigam novas configurações familiares. São formadas por mulheres que se divorciaram e criam seus filhos sozinhas, que optaram por uma produção independente e casais homoafetivos, com ou sem filhos. E, graças à ajuda da ciência e ao avanço das técnicas de reprodução assistida, existem tratamentos adequados para cada formato, sendo possível não ter parceiro e realizar o sonho da maternidade e paternidade a partir de uma produção independente”, conta Thais Domingues, médica especialista em reprodução assistida na Huntington Medicina Reprodutiva.

No caso de mulheres que querem ser mães sem um parceiro é necessário recorrer a um banco de sêmen, antes mesmo de iniciar o tratamento. A lei brasileira exige o anonimato, o laboratório não revela a identidade do doador e não é permitido que ele saiba para quem o seu material foi doado. Em relação às técnicas existem duas opções: inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV), e a mais adequada é escolhida junto ao especialista, após a sua indicação baseada na idade, na reserva ovariana e na função da trompa. Até os 35 anos com esses quesitos normais, a inseminação costuma ser a indicada sendo uma técnica mais simples, que consiste na colocação de espermatozoides na cavidade do útero no período da ovulação. Já para quem possui baixa reserva ovariana, principalmente após os 38 anos, ou apresente alterações nas atividades das trompas, frequentemente causada pela endometriose profunda, o mais recomendado é a fertilização in vitro (FIV). Nesse procedimento, a fertilização do óvulo pelo espermatozoide ocorre no laboratório e o embrião é transferido para a cavidade do útero.

“Por não querer esperar para ter um filho, devido à idade, muitas mulheres recorrem à reprodução humana para realizar o sonho de serem mães. Essa escolha é consequência do empoderamento da autonomia e domínio por seu próprio corpo, que livra a mulher da necessidade de ter outra pessoa para constituir a chamada família tradicional”, avalia a dra. Thais.

No caso de um homem que quer ser pai por produção independente são necessários os óvulos de uma doadora e uma candidata a ceder seu útero temporariamente. Dessa maneira, é feita a formação do embrião em laboratório com o sêmen do homem e a transferência para o útero da voluntária. A ovodoação no Brasil tradicionalmente sempre se caracterizou por ser anônima e não remunerada. Segundo a nova resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a doação de óvulos, assim como do útero de substituição, pode ser realizada por alguém conhecido, desde que seja parente de até 4° grau (mãe, irmã, filha, sobrinha, tia ou prima) e que seja excluída consanguinidade para a formação do embrião. Se for a mesma mulher para ambos os processos, pode ser feita a inseminação intrauterina com sêmen do pai que esteja normal na análise. Caso seja uma doação anônima deve ser realizada a fertilização in vitro (FIV) e quando o embrião estiver formado e pronto para ser transferido para o útero, a mulher que será a barriga solidária deverá passar pelo preparo do endométrio. Depois de 14 dias é feito o teste de gravidez. Todos os envolvidos precisam de avaliação psicológica e, além disso, o pai tem que garantir o seguimento médico durante a gravidez, o parto e após os primeiros meses do nascimento.

“Nem sempre é uma jornada serena. Tanto pelos tabus que envolvem o tema, pautados pelo fato de que boa parcela da população ainda é tradicional, com julgamentos “engessados” em relação a algumas escolhas, não só em relação à sexualidade, mas também sobre todo processo que envolve o tratamento. Por isso, gosto de reforçar a importância do apoio da família e uma avaliação psicológica criteriosa. Hoje é fundamental possuir uma equipe multidisciplinar para auxiliar e acompanhar o processo”, explica a especialista da Huntington Medicina Reprodutiva. “Também reforço que é importante buscar uma clínica com médicos especialistas em reprodução assistida para o sonho ser concretizado de forma segura, séria e tranquila”, conclui.

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