Cultura - Música

O rock brasileiro volta a mostrar que está bem vivo, com o quarteto gaúcho ilegítimos

19 de Agosto de 2020

Não é novidade que, de alguns anos para cá, o bom e velho rocknroll perdeu bastante terreno no mundo e aqui no Brasil também, nas preferências musicais do público ouvinte mais jovem, hoje mais propenso a curtir outros gêneros musicais. Mas, ainda assim e mesmo enfrentando um panorama tão desfavorável nos dias atuais, o rock nacional ainda resiste e volta e meia apresenta novidades bem bacanas, pois sabe que ainda existe um público fiel ao estilo, mesmo que o rock tenha voltado novamente a trilhar o caminho mais alternativo e longe da grande mídia. E uma dessas bem vindas novidades é o quarteto gaúcho Ilegítimos, formado pelo vocalista, guitarrista, letrista e compositor Jeff Lee, pelo também guitarrista Jimmy Azevedo, pelo baixista Rafa Pestana e pelo baterista Felipe Silveira.

A banda ainda é relativamente nova (a formação atual está junta há menos de dois anos) mas o vocalista e guitarrista Jeff  Lee já tem uma longa trajetória no rock gaúcho, que sempre deu grandes e ótimos nomes ao rock brasileiro (basta lembrar de, entre outros, Os Replicantes, Cachorro Grande, DeFalla, Bidê Ou Balde, Vitor Ramil, Kleiton & Kledir, Nei Lisboa, Júpiter Maçã, Apanhador Só etc.). “Eu conheci Beatles quando era criança, ouvindo os discos do meu pai”, se recorda Lee. Daí para as apresentações com grupo de amigos adolescentes em pequenos festivais de colégio não demorou e, aos 14 anos de idade, vieram os primeiros shows nesses pequenos festivais. A adolescência e os anos pós adolescentes pegaram Lee descobrindo suas grandes paixões e influências, como classic rock, o rocknroll garageiro e clássico dos Rolling Stones, o blues de mestres como B.B. King, o rock pesado de Led Zeppelin e o bucolismo das melodias folks do America e da lendária dupla Simon & Garfunkel. A esse caldeirão também se juntou a admiração pelo rock brasileiro dos anos 80, especialmente Barão Vermelho (uma influência confessa) e Legião Urbana, além é claro do imortal Raul Seixas.

Tudo isso moldou as concepções musicais de Jeff, que saiu em busca de montar um grupo profissional. A primeira tentativa foi no começo dos anos 2000, com a Folhas Legitimas, que durou até 2006. Lee então teve que ir cuidar da vida (leia-se: sobreviver em um Brasil onde conseguir viver de arte e música depende de muito esforço e sorte), trabalhando em outras áreas mas sem jamais abandonar seu amor pela guitarra e pelo rock. Quando se sentiu mais seguro para montar outra formação musical, engendrou enfim os Ilegítimos em 2017. Que agora, em plena pandemia do corona vírus, busca mostrar seu trabalho para um público maior e também para uma mídia mais ampla. O objetivo da banda, na verdade, era lançar seu álbum de estreia agora no segundo semestre deste ano. Mas a pandemia e a quarentena vieram e interromperam esses planos. Ainda assim o quarteto conseguiu finalizar e disponibilizar nas plataformas musicais da web quatro músicas que servem perfeitamente como introdução ao bacaníssimo rocknroll básico do grupo, onde ficam claros os eflúvios da melhor fase do Barão Vermelho, além de remeter o ouvinte também a ambiências de nomes como The Who, The Doors, David Bowie (em sua fase glam), Lou Reed, Pearl Jam e até nomes mais recentes como os ingleses do Arctic Monkeys. Ou seja: apenas a nata do rock mundial e todos influências assumidas dos guris de Porto Alegre.

O potencial sonoro e melódico do conjunto fica evidente em faixas tramadas com ótimas guitarras, como é o caso de “Chuva” e “Madrugada”. As canções empolgam e são, além de tudo, bastante radiofônicas. Sendo que Jeff Lee acredita no potencial da banda embora saiba que a situação anda muito difícil no Brasil, para esse tal de rocknroll. Especialmente quando se sabe que o rock, aqui, se tornou bastante conservador e de direita, algo incompatível com a gloriosa história de luta e transgressão do rock mundial e de seu engajamento político e social em favor dos mais oprimidos. “O retrocesso político no rock é apenas uma parte da ignorância na qual a sociedade brasileira atual está mergulhada”, opina o cantor e guitarrista. “A ignorância tomou conta e o resultado aí está, com os mais de 100 mil mortos na pandemia, muitos deles eleitores de Bolsonaro, que negam a doença”, lamenta ao mesmo tempo em que conclui, positivamente: “Nós pregamos coisas boas, como o amor. É justamente isso que nos diferencia deste tipo de pessoa, que possui apenas ódio dentro de si”.

Pois os Ilegítimos reúnem todas as condições necessárias para fazer bonito e dar a sua contribuição para recolocar o rock no mapa musical brasileiro, mesmo com todas as adversidades que o estilo enfrenta por aqui neste momento. Ouça os rapazes e você verá que eles mantêm a tradição que o Rio Grande Do Sul sempre teve: a de salvar o rock brasileiro no momento em que ele mais precisa de garra, emoção e grandes canções.

Para saber mais sobre a banda, acesse: https://www.facebook.com/ilegitimosband/. Para ouvir o som deles, vai aqui: https://open.spotify.com/artist/4Yth1Q1dBz5VXvJBG6AXuo?si=zKFj5wjtT8yHmWN2Ey7PFA.

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