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O coronavírus e a saúde mental da população

23 de Março de 2020

“Nenhum homem é uma ilha, completo em si próprio...”, já disse o poeta inglês John Mayra Donne (1572-1631). Assim, somos seres criados para o convívio. Nesta quinta-feira, 19, nós, da Sena Mediação, empresa especializada em gestão de conflitos, fizemos uma videoconferência com o pessoal da área “Sena Saúde”, o advogado José Jaime, especialista em Direito Médico e a psicóloga Nanci Belmonte, para debater os reflexos do confinamento na saúde mental da população, principalmente na dos maiores de 60 anos.

Fizemos considerações, após a escuta de pessoas próximas que estão há pelo menos cinco dias experimentando essa realidade. Hoje, vive-se no Brasil momentos sem precedentes que testam nossa saúde mental, nosso autocontrole, autoestima, empatia e, principalmente nossa capacidade de ficar juntos, 24 horas por dia. Refletimos que muitos de nós não estamos preparados para isso, principalmente numa época em que o convívio familiar – e, família em suas diversas formas – está fora da agenda.

A cabeleireira Maria Emília, de 62 anos, que mora na zona oeste de São Paulo, se diz deprimida, cuida da neta de sete anos, após a morte prematura da filha. Acostumada a sair para as compras necessárias ao salão, enquanto a neta está na escola, relata estar com medo, sentindo-se como que encarcerada, não confiando nas inúmeras informações, muitas, desencontradas, que ouve de todas as partes.

Com base nesse relato, de uma trabalhadora que luta sozinha pelo seu sustento, Nanci identifica a necessidade da construção de uma rede de apoio, não só no âmbito particular, onde cada um busque em sua vizinhança, família, o apoio necessário, mas também que a rede pública pense no incentivo dessa rede, mesmo comunitária, para conversar com pessoas em situação de vulnerabilidade, inclusive aquelas pessoas que vivem em situação de rua, visto que vivemos hoje frente a uma realidade jamais experimentada pela população. “A saúde mental das pessoas, já combalida pelo aumento do desemprego e a carestia, segue sendo testada, sem qualquer amparo público ou privado”, diz a psicóloga.

Angélica, aposentada, de 66 anos, residente na cidade de Salvador, Bahia, diz que  está no terceiro dia da quarentena. Relata que vive com o marido, da mesma faixa etária. Conversam bastante e dividem tarefas. Alternam noticiário com filmes, séries e música. Lê, faz crochê, além de fazer um bom uso das redes sociais, buscando contato com amigos e irmãs. Fica conectada com os filhos.

Ela relata, entretanto, sentir muita falta do neto, do seu abraço, de cuidar dele. Quando percebe que a tristeza se aproxima, usa o zap para ver o sorriso dele. Fala da tristeza de não poder ir a São Paulo, como programado, para ver o filho, mas que mata a saudade por vídeo. O que mais chama a atenção nesse depoimento é a separação forçada de avós e netos, com impacto direto no estado de ânimo desses avós, que cuidam, abraçam e estão sempre presentes. Os avós, aliás, têm restrições contundentes de aproximação com os netos, uma vez que são os alvos mais vulneráveis nessa pandemia. Também aí, os especialistas da Sena Saúde, o advogado José Jaime e a psicóloga Nanci Belmonte, veem a necessidade de uma atenção psicológica mais intensa. É um convívio com ruptura abrupta que, se prolongada, pode provocar efeitos físicos e psíquicos importantes.

Já, a avó, Solange, consultora para isenções, de 60 anos, moradora da zona sul de São Paulo, tem outro perfil. Ela e o marido, massoterapeuta, cuidam de dois netos, uma menina de nove anos e um menino de três anos. A recomendação do Ministério da Saúde, de avós se manterem afastados dos netos, não tem efetividade para essa família. Convivem nesse ambiente, o medo de contrair o vírus das próprias crianças, e a angústia de permanecerem em isolamento, sem rendimentos que possam suprir as necessidades básicas do alimento. São profissionais liberais que sobrevivem de seu trabalho.  “Se trabalho, ganho. Se não trabalho, não ganho, simples assim” , diz Solange.

E não para por aí, são avós-pais que precisam “entrar na brincadeira”, sufocar as preocupações para, alegres, conduzirem esses dias como os melhores dias de suas vidas, fazendo bolos, transformando a casa em acampamento, sustentando a energia inocente das crianças. Solange diz, no entanto, que, a mais velha  pergunta sobre “a máscara dela”, intrigada pelo noticiário “martelante” da TV.

Jaime lembra que o estresse presente numa situação como essa leva a reflexos incontestes no organismo, como tensão ou dor muscular, azia, problemas de pele, irritabilidade sem causa aparente, nervosismo, sensibilidade excessiva, ansiedade e inquietação. “Há uma constatação social que não passa incólume nesse momento de pandemia. Os netos estão a cada dia que passa mais sob a responsabilidade dos avós”.

Nesse contexto, lembramos que pesquisas realizadas no Brasil confirmam resultados de estudos conduzidos nos Estados Unidos (Fuller-Thomson, Minkler & Driver, 1997; Glass & Huneycutt, 2002), ao constatarem que os avós fornecem apoio instrumental e emocional à família em várias situações: separação/divórcio, gravidez na adolescência, pais com dificuldades para cuidar dos filhos por trabalharem fora, estarem desempregados, incapacitados ou despreparados.

Sobre a Sena Mediação

Fundada em 2017, a Sena Mediação atua na possibilidade de resolução de conflitos fora do meio judicial. Com uma equipe formada por profissionais multidisciplinares, a empresa foca na cooperação entre as partes para a resolução positiva do conflito de forma rápida, eficiente e humanizada. A Sena Mediação atua nas áreas do Direito Civil, Consumidor, Família, Trabalhista, Empresarial (Gestão de Pessoas), Ambiental, Contratual, Responsabilidade Civil, Direito Médico e Previdenciário.

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