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Coronavírus: como proteger os idosos, para quem doença é mais letal

27 de Fevereiro de 2020

O novo coronavírus tem sido apresentado por autoridades de saúde como pouco letal, mas esse quadro se altera quando são levados em consideração apenas os pacientes mais velhos.

Um estudo feito pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China com base em dados coletado até 11 de fevereiro apontou que, entre 44.672 casos confirmados, houve 1.023 mortes.

Isso significa que, até aquele momento, o novo coronavírus tinha uma taxa de letalidade de 2,3% — índice que agora é de 3,4%, de acordo com os dados oficiais mais recentes, foram registrados 2.801 mortes entre 82.168 casos confirmados, até o momento de publicação desta reportagem.

Mas, entre os pacientes de mais idade avaliados no estudo chinês, a letalidade do novo coronavírus é não apenas superior à média da população geral, mas esta taxa progride conforme a faixa etária.

Entre aqueles contaminados com idade entre 60 e 69 anos, 3,6% morreram. A taxa de letalidade foi de 8% para quem tinha entra 70 e 79 anos e de 15% para pacientes com mais de 80 anos.

O infectologista Kleber Luz, professor do Instituto de Medicina Tropical da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), explica que os idosos são mais vulneráveis porque, a partir dos 60 anos, nosso sistema imunológico sofre uma deterioração por causa do envelhecimento, um fenômeno chamado imunossenescência.

Com isso, nosso organismo perde a capacidade de responder da melhor forma possível a uma infecção. Isso significa que ele pode reagir não apenas de forma insuficiente e não conseguir combater a doença provocada pelo vírus como também ter uma resposta exagerada, o que prejudica o organismo.

"Um sistema imunológico prejudicado não consegue modular a resposta e gera uma inflamação descontrolada, que favorece uma desorganização do microambiente pulmonar, onde há bactérias que vivem em harmonia com o organismo e, diante da inflamação, elas podem se proliferar", afirma Luz.

Além disso, as células do sistema imunológico que deveriam apenas matar as células infectadas acabam atingindo também aquelas que estão sadias, provocando mais lesões, diz Fernando Spilki, presidente da Sociedade Brasileira de Virologia.

"Não é surpresa que esse novo vírus provoque isso, porque já está estabelecido na literatura médica que esse desequilíbrio do sistema imunológico ocorre em idosos com a gripe e outras infecções respiratórias", afirma Spilki.

Ao mesmo tempo, idosos têm geralmente outras doenças, como diabetes, pressão alta ou problemas cardiovasculares. Quando o coronavírus causa uma inflamação no organismo, isso agrava as outras doenças.

"Um idoso nunca terá só uma infecção por coronavírus, mas uma ou duas outras doenças. Quando isso ocorre, essas outras enfermidades se descompensam. O coração deixa de bombear sangue direito, há um edema pulmonar ou ocorre uma insuficiência renal", afirma Luz.

"Este coronavírus tem uma capacidade pequena de produzir uma doença grave, então, para ser capaz de matar é necessário que outros fatores estejam envolvidos."

O que fazer para se proteger

Para se proteger, grande parte das recomendações para os idosos são as mesmas da população em geral, como lavar as mãos com sabão após usar o banheiro, ao chegar em casa e antes de manipular alimentos.

Também é importante evitar tocar na boca nariz ou olhos se estiver em um ambiente público ou em lugares de grandes aglomerações, porque o vírus é transmitido por via aérea e pelo contato com secreções respiratórias. E ainda manter os ambientes limpos e higienizar superfícies, móveis e o celular com produtos desinfetantes.

No entanto, há alguns conselhos direcionados especialmente a idosos. "As pessoas estão muitas vezes preocupadas com o coronavírus e se esquecem das outras doenças, então, é importante manter essas enfermidades sob controle, porque assim há menos chance de elas serem descompensadas por uma nova infecção e levarem o paciente à morte", afirma Luz.

Spilki também recomenda manter uma boa alimentação e fazer atividade física regularmente para retardar a deterioração do sistema imunológico, além de verificar se todas as vacinas estão em dia, especialmente a da gripe.

Com a chegada do inverno, o vírus causador desta doença, o influenza, circula com mais facilidade, e os casos de gripe se multiplicam.

"Pegar o coronavírus e ter gripe ao mesmo tempo pode gerar uma infecção cruzada, causando um efeito que potencializa as duas doenças e cria um duplo desafio para o sistema imunológico."

Mas, de acordo com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, as pessoas não devem correr agora para os postos de saúde ou para a rede de saúde privada para se vacinar contra a gripe.

É preciso esperar que o novo lote de vacinas para gripe que está sendo desenvolvido, seja concluído e então oferecido à população.

"As vacinas para gripe que ainda estão em estoque são do ano passado e não têm eficácia nenhuma sobre os vírus que estarão circulando em nosso inverno, que são novos. Para eles, será preciso tomar a vacina que será distribuída entre a última quinzena de março e o início de abril", disse Mandetta.

Fonte: R7

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