Por Dr Marco Aurélio Lipay
A testosterona é o hormônio predominante no sexo masculino e está envolvida em uma infinidade de processos fisiológicos e bioquímicos. É mais conhecido pela ação sobre o desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas. Produzido, principalmente, pelos testículos nas células chamadas de Leydig, os níveis de testosterona são controlados pelo cérebro e glândula pituitária (hipófise).
A Função da testosterona no Homem:
- reprodução (produção de espermatozoides),
- libido (desejo sexual),
- manutenção da massa óssea,
- distribuição de gordura,
- a força e o volume da massa muscular,
- produção de células vermelhas do sangue,
- estado emocional (humor).
O declínio da função gonodal é parte do processo normal de envelhecimento masculino. Estima-se que os níveis de testosterona em homens com mais de 40 anos diminuam a uma taxa de 1% ao ano.
A preocupação sobre a necessidade de reposição hormonal é um tema universal em nossos dias, e exemplos são os da Associação Americana de Urologia (AUA) em 2018, e da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) em 2017 que publicaram normas e recomendações para boas práticas no uso da testosterona.
No Brasil a SBU publicou o livro: “Recomendações em Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM)” que foi distribuída aos urologistas brasileiros. Ambas sociedades preconizam o diagnóstico e tratamento de reposição de testosterona de forma eficaz e segura. Nos Estados unidos a AUA fez uma revisão sistemática e criteriosa a partir de pesquisas de artigos científicos publicados no período de 1980 e 2017 que rendeu 15.217 referências e envolvendo aproximadamente 350.000 homens.
Desta análise evidenciou-se que:
- Os testes de testosterona e prescrições quase triplicaram nos últimos anos,
- Há muitos homens usando testosterona sem uma indicação clínica precisa,
- Alguns estudos estimam que até 25% dos homens que recebem terapia com testosterona não têm testosterona testada antes do início do tratamento,
- Dos homens que são tratados com testosterona, quase metade não tem seus níveis de testosterona verificados após o início da terapia,
- Estima-se que até um terço dos homens que são colocados em terapia com testosterona não atendem aos critérios para serem diagnosticados como deficientes em testosterona.
Os sinais e sintomas de DAEM podem ser sexuais e não sexuais:
- Diminuição ou Perda de libido (perda do interesse sexual),
- Disfunção erétil,
- Ereções matinais menos frequentes e de menor qualidade,
- Obesidade abdominal,
- Baixa densidade mineral óssea,
- Depressão,
- Fadiga,
- Perda de pelos corporais,
- Redução da sensação de vitalidade ou de bem-estar,
- Anemia,
- Presença de níveis alterados de colesterol, triglicérides e glicemia.
O diagnóstico do distúrbio androgênico associado ao envelhecimento masculino (DAEM), também conhecido como Síndrome de Deficiência de Testosterona (SDT), requer a presença de sinais e sintomas característicos em combinação com níveis baixos de testosterona e para isso deve-se realizar a coleta da amostra para dosagem da testosterona pela manhã e são necessárias pelo menos duas dosagens em dias diferentes, quando a primeira dosagem for baixa. Quando se faz o diagnóstico de hipogonadismo (baixos níveis de testosterona), os níveis séricos de hormônios luteinizantes e prolactina devem ser medidos.
O que o Médico deve fazer e falar ao paciente sobre os riscos do uso da testosterona, antes de indicar a terapia:
- É necessário solicitar exames para avaliar os níveis de elementos sanguíneos como: hemoglobina e o hematócrito e informar os pacientes sobre o aumento do risco de policitemia (aumento de células vermelhas ou hemácias, tornando o sangue mais viscoso, lento e assim aumentar o risco de dores de cabeça, fenômenos trombo embólicos e infartos, entre outros).
- Solicitar o PSA (marcador para câncer de próstata) para homens com mais de 40 anos de idade antes do início da terapia com testosterona com o objetivo claro de excluir um diagnóstico de câncer de próstata.
- Informar que há ausência de evidências ligando a terapia com testosterona ao desenvolvimento do câncer de próstata.
- A baixa testosterona é um fator de risco para doença cardiovascular.
- A terapia com testosterona pode resultar em melhorias na função: erétil; baixo desejo sexual; anemia; densidade mineral óssea; massa corporal magra e sintomas depressivos.
- Não há evidência conclusiva, se a terapia com testosterona melhora a função cognitiva, da diabetes, da fadiga, dos níveis lipídico e da qualidade de vida.
- O impacto a longo prazo da testosterona exógena na espermatogênese deve ser discutido com pacientes que estejam interessados em fertilidade futura.
- Antes de iniciar o tratamento os médicos devem informar aos pacientes que a terapia com testosterona pode apresentar riscos de eventos cardiovasculares (por exemplo: infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, fenômenos tromboembólicos).
- Todos os homens com deficiência de testosterona devem ser aconselhados sobre modificações no estilo de vida como estratégia de tratamento.
- Homens com deficiência de testosterona que estejam interessados em fertilidade devem ser investigados antes do uso de testosterona.
- Não se recomenda uso de testosterona em homens férteis que desejam ter filhos.
- A terapia com testosterona não deve ser iniciada por um período de três a seis meses em pacientes com histórico de eventos cardiovasculares.
E para finalizar, vale ressaltar que recentemente a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), emitiu nota apoiando a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) reforçando a publicação do Conselho Federal de Medicina (CFM) que não reconhece a especialidade intitulada “Modulação Hormonal”. Esse posicionamento vem ao encontro da Resolução do CFM nº 1999/2012, segundo a qual a reposição de deficiências de hormônios e de outros elementos essenciais se fará somente em caso de deficiência específica comprovada e que tenha benefícios cientificamente comprovados. Portanto a reposição hormonal é um ato médico e somente pode ser feita por profissionais médicos, preferencialmente um especialista.
Sobre o autor:
Dr. Marco Aurélio Lipay
Doutor em Cirurgia (Urologia) pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo)
Titular em Urologia pela Sociedade Brasileira de Urologia
Membro Correspondente da Associação Americana de Urologia
Autor do Livro Genética Oncológica Aplicada a Urologia
drmarcolipay.com.br