Colunistas - Heródoto Barbeiro

A nova capital do Brasil

14 de Agosto de 2018

Para muitos seria a capital da esperança. A velha capital já não mais servia aos interesses regionais uma vez que vivia no meio de uma decadência. As atividades econômicas diminuíam rapidamente, a população sem emprego aumentava e um sem número de pessoas vagavam das favelas para os casarios velhos e abandonados. As ruas íngremes e esburacadas eram ocupadas por cavalos e mulas. A burocracia estatal tinha que se desdobrar para atender e fiscalizar uma área imensa  espalhada por milhares de quilômetros de mar, e totalmente indiferente ao que ocorria no interior. As despesas para manter forças militares não suportavam a imensidão territorial e a frota naval era insuficiente para combater os contrabandistas e piratas que usavam  e abusavam da liberdade de delinquir. A realidade era só uma: o eixo econômico tinha se deslocado e não havia outra saída senão deslocar também a capital e tudo aquilo que estava a ela ligado. Ia custar muito dinheiro do contribuinte, mas valeria a pena, diziam os governantes da época.

A nova capital do Brasil tinha tudo para ser mais dinâmica, mais adequada aos novos tempos. Estava mais próxima  do fluxo comercial e econômico ainda que mais distante de outros continentes. Mas a burocracia estatal teria melhores condições de  fiscalizar o fluxo de tudo o que saia e entrava, impedindo o contrabando de produtos mais valiosos e fáceis de esconder dos olhos dos fiscais. É verdade que estes continuavam caolhos e só enxergavam o que queriam. A corrupção, ainda que  combatida com constância, continuava sendo uma praga nacional. As  áreas mais nobres da cidade foram destinadas às casas dos mais ricos, governantes, funcionários do alto escalão bem remunerados. Como tudo estava por fazer na nova capital, era possível organizar a ocupação, e empurrar os mais pobres para a periferia. Problema deles chegar aos lugares onde prestavam serviços à elite local. Todos acreditavam que a nova sede do governo era um sinal que as coisas estavam mudando e a prosperidade apontava no horizonte. Realmente era adequado chamá-la de capital da esperança.

A nova capital sediou os governos que se sucederam. Foi construído um palácio para a presidência da república, outro prédio para o Congresso Nacional, um outro  para o Supremo Tribunal Federal, acomodando os três poderes da república. Boa parte da população prestava serviços a inumeráveis órgãos públicos o que garantia uma renda média boa para o consumo e sustentação de novos negócios, uma vez que o Estado nunca deixava de pagar os salários e aposentadoria dos seus funcionários. Não haveria crise .Aos poucos a cidade se tornou o centro cultural e turístico do Brasil. Muitos estrangeiros vinham em busca de sua maravilhosa paisagem, calçadas coloridas de pedra portuguesa e uma vida noturna intensa com teatros, boates, bares abertos a noite toda e durante um certo período gozou da existência de um cassino legalizado. Para muitos era a cidade dos sonhos e quem podia ia para lá com ou sem emprego público. Durante 207 anos o Rio de Janeiro foi a capital do Brasil até ser substituída por outra capital da esperança em 1960, Brasília.

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