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Morar com os pais após os 30 adia o amadurecimento, diz especialista

5 de Abril de 2013

O empresário Alexandre Shirata, de 39 anos, já teve a experiência de morar fora de casa, com amigos e com uma ex-namorada, em lugares tão diferentes quanto o Japão, Angra dos Reis (RJ) e Betim (MG). Agora, com a mulher e o filho de quatro meses, decidiu morar de novo na casa do pai, em Belo Horizonte –e não cogita sair de lá tão cedo.

Decisões como a de Alexandre são comuns: adultos com mais de 30 anos, com independência financeira, muitas vezes em um relacionamento estável, que, por opção, resolvem continuar morando na casa dos pais.

Alexandre lista algumas vantagens, como o conforto de morar em um apartamento espaçoso e bem localizado, que custaria muito dinheiro se fosse adquirido hoje. Aliás, a questão financeira pesa muito na decisão.

"Não tenho despesas. Não me preocupo com conta nenhuma, nem IPTU, aluguel, condomínio, telefone, internet etc". Outra vantagem que ele vê é em fazer companhia para o pai, que estava morando sozinho e seu filho poder crescer perto do avô.
 
O único aspecto negativo que ele conseguiu encontrar foi "um pouco de falta de privacidade". Sua mulher estranhou morar com o sogro no começo, mas, com o tempo, a também empresária Rosiane Ribeiro, de 27 anos, achou até mais seguro estar tão perto do pai de seu marido, que é médico. "Qualquer coisa que acontecer com o bebê nós temos o auxílio dele", diz ele.
 
  • Arquivo pessoal

    Alexandre Shirata, 39, mora na casa do pai com a mulher, Rosiane Ribeiro, 27, e o filho Samuel

 

Companheira da mãe

 
A autônoma Maria Augusta da Costa Aguiar, 45, também mora com a mãe, em São Paulo, desde que tinha 27 anos, quando se separou. Na mesma casa vive o irmão, o biomédico e advogado Paulo da Costa Aguiar, 43, que não chegou a sair de casa.
 
Também para eles, não é prioridade mudar de vida nos próximos anos. "Nunca mais cogitei de sair depois que voltei", diz Maria Augusta. "Casa de mãe é sempre gostoso, né? Tem tudo em ordem, não precisa se preocupar com arrumação, comida, nada: já está tudo prontinho".
 
Ela diz que sempre teve um vínculo muito forte com a mãe e que as duas fazem companhia uma para a outra. Em casa, assistem à TV e passam o tempo juntas, principalmente à noite. Mas também costumam ir ao shopping ou jantar fora.
 
Segundo Maria Augusta, muitos de seus amigos também decidiram morar com os pais. Entre os mais próximos, lembrou-se de seis. Ela também destaca a economia dessa situação, mesmo com todos ajudando nas despesas. "Nunca cogitei morar sozinha. Financeiramente pesa demais. Muita gente vai morar com um amigo; eu prefiro morar com a minha mãe".
 
Ela não vê problemas com privacidade e diz que morar com a mãe não interfere, por exemplo, em seu namoro. Mas comenta que acaba tendo de dar satisfações, que são mais comuns quando o filho é adolescente, como dizer a que horas vai voltar para casa. "Para a mãe, o filho nunca cresce. Você sai, chega tarde e a toda hora ela telefona e pergunta "você vai demorar? Onde você está?"". Mas ela garante que não se incomoda.
 

Autonomia versus conforto

 
O psicólogo e psicanalista Armando Colognese Jr., professor do Departamento de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae, diz que, quando a pessoa opta por ficar com os pais, pode retardar o conhecimento, a experiência e o amadurecimento de cuidar verdadeiramente de si. Ele acredita que a experiência também pode ser negativa para os pais, por adiar o processo de envelhecimento. "Eles merecem certa liberdade e tranquilidade".
 
A psicanalista pela Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo Blenda de Oliveira concorda que, do ponto de vista da autonomia, é "sempre melhor que os filhos possam ter o lugar deles". Ela lista algumas vantagens de sair da casa dos pais, apesar de eventuais obstáculos: a criação da própria rotina e das próprias regras, a definição da maneira pessoal de organizar a casa, a privacidade completa e a liberdade de chegar e sair na hora que quiser, sem ter de dar satisfações, que são naturais quando os pais estão por perto.
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