Colunistas - Rodolfo Bonventti

Era uma vez na TV: O inimigo morava ao lado?

11 de Agosto de 2010
A partir desta semana, todas as quartas-feiras, o site Tele História abre espaço para uma forma diferente de conhecermos o que se passou nos bastidores da nossa TV desde a sua concepção.

Boa leitura!


A TV brasileira começou na raça e na improvisação, mas enquanto algumas "jogadas" de marketing inventadas por Assis Chateaubriand criavam uma grande expectativa em torno do que seria essa televisão, alguns tropeços interessantes quase colocaram o ambicioso projeto literalmente no chão.

Em 1949, mesmo não sendo publicitário ou marqueteiro de formação, Chateaubriand se utilizou de uma técnica publicitária muito comum nos dias de hoje, o teaser (técnica utilizada para chamar a atenção para um grande lançamento ou revelação, capaz de despertar a curiosidade com ar de suspense no grande público), espalhando pela cidade de São Paulo, em 1949, que a chegada da televisão e de programas produzidos no Brasil estava prestes a invadir os lares paulistanos.


Assis Chateaubriand

A grande novidade logo ganhou espaço na sociedade paulistana que só falava da loucura que aquele homem estava planejando fazer. Depois do advento do rádio, só nos faltava agora aquele misterioso aparelho nas salas das residências brasileiras.

Os funcionários dos Diários Associados eram chamados a renovar seus contratos de trabalho e para surpresa geral, uma nova cláusula dizia que, a partir daquela data eles também estavam obrigados a prestar serviços em rádio e na televisão. Como assim? Na televisão?

A expectativa crescia mês a mês e ainda em 1949, Chateaubriand já tinha garantido quatro patrocinadores para o seu ambicioso projeto: a Companhia Antarctica Paulista, o Moinho Santista, a Organização Francisco Pignatari (leia-se prata Wolff) e a Sul América de Seguros de Vida e suas subsidiárias.

Com dinheiro garantido para colocar a TV no ar, equipamentos comprados nos Estados Unidos da RCA e os primeiros profissionais contratados, entre eles Dermeval Costa Lima como diretor artístico e Mário Alderighi como diretor técnico, Assis Chateaubriand só esqueceu de uma coisa: adquirir aparelhos receptores para que as pessoas pudessem ter acesso às imagens. O alerta veio de um engenheiro norte-americano da NBC, Walther Obermuller, que estava no Brasil, vindo dos Estados Unidos especialmente para orientar a instalação de todo o equipamento adquirido. Atônito com a observação do técnico, Chateaubriand não teve dúvidas: "vamos logo e em regime de urgência importar uns 200 aparelhos desses".


Inauguração da TV Tupi

Já naquela época, a burocracia do nosso Ministério da Fazenda era muito grande e morosa e, como diz Fernando Morais em seu livro "Chato - O Rei do Brasil": "o dono da empresa de exportação explicou que não seria tão simples assim trazer os aparelhos. Assis Chateaubriand não se assustou e determinou: - Então traga de contrabando mesmo. Eu me responsabilizo e o primeiro receptor que desembarcar eu mando entregar no Palácio do Catete como presente meu para o presidente Dutra".

Só que Chateaubriand "esqueceu de avisar os russos" como falamos habitualmente, e nada disse de seus planos aos jornalistas do "Diário da Noite", o principal jornal dos Diários Associados naquela época. E foi aí que o caldo entornou!

O resultado desse cochilo de Chateaubriand foi que uma das principais manchetes nas semanas seguintes do jornal "Diário da Noite", foi sobre um possível contrabando de aparelhos televisores para o Brasil que estava acontecendo sob os olhos de todos...

Pronto, estava armada a confusão! A denúncia gerou uma grande balbúrdia na mídia e na sociedade da época e deixou Chateaubriand à beira de um ataque de nervos.

Ânimos acalmados, o jornal esqueceu o assunto, as autoridades também e estava dado novamente o sinal verde para a tão sonhada primeira transmissão, que aconteceu a 18 de setembro de 1950.

Pois é, quase que o vizinho ao lado da nossa PRF-3 TV põe tudo a perder!

Na próxima semana, um índio, um frei e um bispo auxiliar tomam conta da telinha e aprontam das suas!
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